terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pouca Vergonhagate




Prosseguiu ontem, no Tribunal de Paris, a audiência de julgamento, conhecida por "Angolagate", que aborda a "venda ilegal" de armas russas a Angola e corrupção, sendo referenciado o eventual envolvimento, nos ilícitos, de altas personalidades francesas e angolanas, nomeadamente a do Presidente José Eduardo dos Santos.


Pierre Falcone, referenciado como cérebro do negócio, terá pago mais de 500 mil euros a cerca de 50 raparigas que, entre 1997 e 2000, acompanharam, na capital francesa, ministros e altos funcionários angolanos. Para além de dinheiro, as acompanhantes eram recompensadas com prendas suplementares. A recrutadora das acompanhantes chegou mesmo a comprar, para os angolanos, lugares para assistirem a partidas no Torneio Roland Garros e alugado um camarote no Estádio de França para o Mundial de 1998, este "mimo" na módica quantia de 300 mil euros.
Não há ainda arguidos constituídos.


No Verão do ano transacto, numa deslocação a Lisboa, vi-me na necessidade súbita de prolongar a estadia, sendo-me reservado um quarto no Hotel Sana-Malhoa. Cumpridas as habituais formalidades, desloquei-me para o bar do hotel para relaxar o final de tarde de um dia complicado. No balcão do bar estavam 3 africanos, de ar muito executivo, que, de voz e discurso amplificado, arrasavam desapiedadamente tudo quanto era português, endeusando as maravilhosas nuances da sua "democracia", da sua estratégia empresarial, da sua economia, da sagacidade e "savoir faire" do seu "renascido" país.
Tudo isto enquanto se deleitavam com sucessivos e sôfregos balões de James Martin's de 20 anos. O volume do som e as "atrocidades" que tive ouvir "em fundo" foram redobrando de intensidade e perdendo em fluência. É que foram muitos e continuados balões...


Nem eu, nem um casal brasileiro, nem os dois empregados de serviço ao "regadio", em momento algum, reprovámos, por gestos, esgares de expressão ou intervenção, aquele caudal de inverdades, imprecisões, soluços, inflexões barítonas, distorções de voz e raivinhas mal contidas.

Só faltava mesmo o arroto para o quadro ser pleno.

Limitámo-nos, atónitos e condescendentes, a assistir ao desempenho daqueles "novos senhores" das democracias "emergentes" de uma África vandalizada por "democratas" de fato fino.

Desconheço quem eram, ao que estavam e quem representavam. Sei apenas que vestiam bem - muito bem -, tresandavam a Jean Paul Gautier, calçavam "luvas" de pele vistosa, bebiam do bom e do melhor e ofendiam o país de acolhimento ou visita com linguagem desbragada, de quem está mal com a vida... De quem não acredita que o James Martin's, aos vinte anos, com meia dúzia de balões, começa a mentir muito...


Penso - quero acreditar - que nem todos serão assim. A maioria, garantidamente, não é. Mas o cartão de visita foi entregue... Minoritário mas elucidativo.


Pagaram por aquele "desempenho" em dinheiro vivo aquilo que 4 ou 5 famílias africanas - que não têm relações com o James Martin's nem conhecem o Gautier - disporão, por mês, para se governarem razoavelmente. Os empregados do bar agradeceram com sorrisos de orelha a orelha, o que também não me deixou muitas dúvidas quanto ao motivo.
Saíram para a noite com um destino: forró e gajas. É que nem pejo tiveram em o denunciar com pompa, circunstância e topo de gama com cicerone, à porta.


Não me espantam os 500 mil euros de gajas, os 300 mil de camarotes, os Volkswagens Polo de prenda e outras luxúrias desta nova casta de "donos do mundo", envolvidos no Angolagate.

No meu Sanagate, a coisa, com as devidas proporções, deu para perceber e adivinhar tudo.
Infelizmente, este postal ilustrado estende-se a muitos feudos e condados; não só alguns africanos - que falam português - serão os maus da fita. Nós por cá, também temos a nossa galeria de figurões e de figurinhas que, com o dinheiro dos outros, tratam o James Martin's por tu e o Gaultier pela alcunha.
E é pena. Porque é vergonhoso e imoral.
Até quando esta pouca vergonhagate se passeará impunemente?!...

Texto:©José Tereso / Fonte: Expresso.pt / Imagem:jornalmudardevida.net

Medina Carreira, SICN, 10.12.08 (1/6) - Negócios da Semana

Medina Carreira: que pena só haver um!...

Opinião?!... Opinião sobre o Freeport?!... Quem?!...

Nããããã!...
Pois!... Pois!... Pois... 'tou a ver!

Texto:©José Tereso

Oi! Tuta... Já não te via há bué...










Ora aqui está a prova que o silicone não é só para as mamas e para outras partes menos recheadas.
Andam umas tias e umas catraias que acodem pelo nome de tópe módeles pelas ruas do Chiado há procura de uns artistas de cirurgia plástica que se prestem a encher-lhes as reentrâncias com silicone e, quando a gente menos se cuida, vem esta Srª. Elisabeth Daynès, passados um porradão de anos - antes ainda do Noé pregar com a girafa e o macaco dentro da arca e fazer-se ao mar - e reconstrói a cara do nosso amigo Tutankhamon, o Tuta para os amigos mais chegados e para os outros - como é o meu caso - que tive o prazer de o ter como colega num ATL da Rua dos Fanqueiros, mesmo em frente aos Armazéns Alegrete.

Como é que aquela porra do gel consegue pôr um gajo, que até já estava bastante estragado e cheio de refegos e pés de galinha, com uma carinha nova, bronzeada, bem escanhoada e sem aquelas peles que tanto atormentam as múmias da brigada do croquete e que mal lhes seguram os óculos de dormir.



Bom, antes ainda de me debruçar sobre o Tuta, sempre vos digo que a Dª Elisabeth está garantida: abre uma loja de restauração de antiguidades e cacos velhos e aquilo vai ser um corropio de tias a pedirem novos designs para o frontespício.



Mas para é que esta gentinha quer encher a cara e as mamas com aquela papa se depois andam o ano inteiro a depenicar nabiças, danones, bolicaos e croquetes de anchovas, quando há alguma festita, e gastam o dinheiro - que devia ser para a chicha - nos paparazi contratados para lhes fixar o momento.
Poupam na comida mas gastam-no nas fotografias, ora porra para o negócio!
Depois lá está: empenham o peixe-palhaço do aquário - que serviu para duas recepções -, vendem o caniche com a desculpa que se dá mal com o recuperador de calor, dão uma aulas de sushi com umas amostras de carapau maluco que caiu da caixa na lota, para depois entregarem os aéreos ao paparazi que as flagrou, pontualmente, à hora marcada de entrarem na festa e momentos antes de devolverem a vestimenta ao pronto a vestir e de entregarem o carro que pediram emprestado porque o delas tinha uma folga nos platinados, uma vela stressada ou a panela de escape com queimaduras de 3º grau.



A comerem lé...gumes e tostas com patê de sardinha requeimada... devem ir longe!
É que nem há silicone nem papa, nem entulho de qualidade nenhuma que lhes encha os vácuos e os vazios...
Mas o nosso Tuta aí está, novinho e bem encarado - sem necessitar de nenhum gestor de imagem - e isto apesar dos esforços de um tal Howard Carter - inglês, por sinal - que bem se esforçou para o desmembrar em cacos ( e já ia em 18) para ver se ninguém descobria do que é que o Tuta tinha morrido.












E a coisa está preta... não sei se algum laboratório inglês, ou detective, conseguirá resolver o enigma que paira sobre a morte do moço. Eu sempre disse ao Tuta para não se meter na política aos 9 anos e casar-se logo a seguir.

É que aquilo levantou logo invejas e malquerenças e enquanto não enterraram o homem não descansaram e, claro, aos 19 finou-se.
Vai daí, entraparam-no de noite, fizeram-lhe uns taipais e sarcófago com ele... e por lá ficou esquecido um porradão de anos, sem ver luz.

O que te desejo é que te sintas bem com a gente e não te rales com as visitas, com a humidade, a concorrência das tias, os tiques do Ronaldo e as desventuras do Benfica. Carga nisso!
Põe-te a pau com a ASAE e não saias à noite porque isto com o carjacking, com o moneyjacking, com o workjacking e com o morfesjacking não está fácil... e é num instante enquanto a gente dá em múmias; com o economicismo que aí vai nem com trapos nos enrolam.
Nem com trapos nem com promessas.
Texto:©José Tereso

Publicidade com pó: Mariani Wine

O Vinho Mariani (1865) era o principal vinho de coca do seu tempo. O Papa Leão XIII carregava um frasco de Vinho Mariani consigo e premiou seu criador, Angelo Mariani, com uma medalha de ouro.
Texto e Imagem: hypescience.com

Patxi Andion - "20 Aniversário - Palabras"

Quem mais diria isto assim?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pensamentos: Estratégia






ALVIN TOFFLER
1928
Escritor
"Ou você tem uma estratégia própria, ou então é parte da estratégia de alguém."

Filhos do deserto






Preocupado com a desertificação do Interior do País, o Presidente da República, Prof. Cavaco Silva, em Novembro de 2007, visitou, durante dois dias, os concelhos da Guarda e Gouveia.

Finda a visita, levantou aquelas melindrosas questões que correram "mundo": "Porque é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?"

Para evitar o óbvio e o pavio, apressou-se a concluir com um: "Eu não acredito que tenha desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao Mundo".

Há dias em que não se pode visitar o Interior do País: chegamos com uma preocupação, depressa arranjamos mais duas e ainda arranjamos crença para dar como certo o entusiasmo luso, no mínimo para dar novas vidas ao Mundo.

Sinceramente, nem sei que lhe diga, Sr. Presidente.

No que a mim concerne, também lhe garanto que se vivesse na Guarda ou em Gouveia, com os frios que para aí vão, de uma coisa eu não me lembrava: fazer filhos.
Eu queria era lenha e coisas quentes. A mulher - com os pés sempre frios!... - lá longe.
Ir à Guarda em Novembro... escolham outro!

Se nalguma coisa o país começa a ter défice é, precisamente, em portugueses com entusiasmo. E não só para fazer filhos, mas sobretudo para aturar os filhos dos outros.
Não sei se na Margem Sul houve também quebras de entusiasmo. Penso que não. Contudo da desertificação também não escaparam...

E veio-me este atabalhoado texto à ideia porque, noticiava a Visão, que a Canon, no Japão, decidiu deixar, duas vezes por semana, os funcionários saírem mais cedo - 17H30 - levando, contudo, trabalhos para casa: fazer filhos.
A maior associação japonesa de empresas, com 1300 companhias internacionais associadas, a Keidanren, emitiu um parecer do mesmo teor, fazendo apelo ao seu cumprimento por parte das empresas associadas.
Também o Japão se debate com uma "recessão" adicional: a taxa de natalidade.

É só seguir o exemplo japonês, Sr. Presidente da República, porque até temos afinidades: já andamos de olhos em bico há uma porrada de tempo!

Tenho reparado que, recentemente, as empresas portuguesas têm mandado para casa muita gente. Acho que não será propriamente com o intuito de reparar índices de natalidade...
Mas, uma coisa me ocorre: no desemprego e com a televisão penhorada ou vendida, pouco restará aos portugueses, sem entusiasmo, senão fazer filhos.
Sempre matam o tempo, enquanto não lhes ocorre outra coisa...
Texto:©José Tereso / Fonte: visão.pt/ Imagem:www.africanidade.com

domingo, 25 de janeiro de 2009

Memórias de baú: Navios

Paquete "Santa Maria"
1952 - 1973
Construído pela Société Anonyme John Cockerill
Propriedade da Companhia Nacional de Navegação

Imagem: jmgs.fotosblogue.com

O fim do Mundo já não é o que era...


Bons velhos tempos em que me preocupava com o Fim do Mundo...
Agora, o pesadelo chama-se Fim do Mês
Que saudades do Fim do Mundo!
Texto:©José Tereso / Imagem: seek.com

A oitava maravilha do Mundo

Portugal vaí construir a oitava maravilha do Mundo. Iniciaram-se já as obras, com a comitiva governamental, que compareceu ao acto inaugural, a colocar a primeira pedra. A populaça não quiz deixar de participar no evento, arremessando, generosamente, o primeiro tijolo - ver foto -.
Vão ser criados 1500 postos de trabalho e 3000 empregos.
As derrapagens do orçamento estão devidamente previstas e acauteladas com uma flexisegurança que satisfaz os itens mais exigentes..
"Prometemos ser breves" - disse um membro da comitiva -
( O que eu agradecia: que brevemente, fossem breves!)
Texto:©José Tereso / Imagem: sxc/hu

De pega em pega... até sermos pegados!










Nas touradas, quando o grupo de forcados não consegue concretizar a pega "de caras", recorre-se à pega de "cernelha", devidamente coadjuvada por um conjunto colorido de "chocas" que, empurradas por uns senhores de barrete, lá encaminham, com mais ou menos convicção, o teimoso e desafinado touro para os curros.

Faço parte do lote de pessoas que torcem, sempre, pelo touro: de cachecol e bandeira. Numa única situação reconheço alguma coragem aos naturais opositores do touro. Estão neste, particular caso, os forcados. E só não lhes reconheço a plenitude porque enfrentam o animal numa altura em que o mesmo já não é aquele que irrompeu pela arena.

Daí que a pega de "cernelha" me lembre sempre as cabazadas que a nossa Selecção antigamente levava, persistindo, mesmo assim, ser o vencedor "moral" do encontro.

E peguei na escrita por esta ponta porque o Ministério da Justiça acaba de conduzir o "teimoso" para os curros com uma brilhante pega de cernelha, salvuardadas as devidas proporções e analogias.

É verdade... Não conseguindo travar a onda visível de crescente criminalidade - a mesma que é sonegada, estatisticamente, há dois anos para cá - que decidiu escolher as caixas multibanco, distribuídas pelos Tribunais, como alvo apetecível e vulnerável, optou aquele Ministério por mandar retirar, imediata e urgentemente, as 32 caixas Multibanco existentes no interior de vários Tribunais do país.
No cerne de tal decisão, está a opinião do secretário de estado Adjunto e da Justiça, José Conde Rodrigues, que considera que "as 32 caixas ATM não estão encastradas em condições de segurança" no interior dos edifícios. Concluiu, dizendo que "a medida não apresenta quaisquer desvantagens para quem necessita de pagar serviços nos Tribunais, uma vez que tal é possível fazer-se nos terminais de pagamento ao balcão".
Bom... aqui salta-me já a primeira questão: se não há desvantagens, qual a vantagem de as lá ter posto? Obra de um decorador? Um arranjo floral não faria o mesmo efeito? Um chafariz não seria mais adequado? Um terminal da Santa Casa não seria mais rentável?

Para amenizar as conclusões que cada um retirará desta medida, apressou-se a dizer que " estão em curso medidas, orçadas em 8 milhões de euros, tendentes ao reforço da segurança dos tribunais".

Permitam-me, respeitosamente, a "comparança": não se conseguindo vergar o touro "de caras", pegou-se de "cernelha" ao tirar-se-lhe as caixas e agora, com os 8 milhões, vêm as adoráveis chocas convencer o touro a recolher-se aos aposentos.
Tipicamente português.
Quando toda a gente chamava a atenção dos profissionais da distracção que o crime aumentava, quantitativa e qualitativamente, à vista desarmada, vieram os ratos de gabinete esgrimir com estatísticas e comparações bacocas, tentando fazer passar por parvo o alarmado cidadão.

Só que estas coisas pagam-se. E a realidade ultrapassa a ficção. E o único realizador de cinema português que resiste ao tempo com currículo é o Manoel de Oliveira.
Deixem-se de fitas e saiam dos gabinetes. Mas a sério... porque o cheiro a naftalina já chega aos arrumos.

No que concerne aos Tribunais, acho salutar o investimento, sobretudo se pensarmos que os Tribunais poderão começar a cumprir cabalmente a sua função. É que bastava que cumprissem, com qualidade e celeridade, a sua função para que o investimento se reduzisse substancialmente e para que a segurança fosse um bem seguro, naturalmente. Nem 30, nem 400 guarda-costas, farão de mim um homem mais seguro... Quando muito, mais acompanhado. Mas apenas isso.

Também a população prisional actual mereceria uma avaliação suplementar. A actual população prisional custará ao erário público - e baseio-me em vozes e "apanhados" noticiosos - qualquer coisa como 400 euros/recluso. As visões economicistas do problema têm vindo a reduzir, e a arranjar argumentos, o leque de fundamentos que impliquem a reclusão de alguém. Mas chegámos a um ponto da linha em que, na mais podre e intocável liberdade, estarão potenciais - e bem mais perigosos - reclusos que, indevida e ilegitimamente, continuam a engrossar as estatísticas criminais, não sendo previsível o dia em que haja coragem para uma monumental pega "de caras", daquelas em que até o rabujador tem de dar o litro e fica com o rabo na mão...
Até lá... de "cernelha" e com 8 milhões, tentamos demover a fera. A ver se ela se cansa!
De pega em pega, e de cornada em cornada, não escaparemos ao desaire final.
Nem as "chocas" nos acompanharão.
Texto:©José Tereso / Fonte: Lusa / Imagem: tauromania.pt

sábado, 24 de janeiro de 2009

Carlos do Carmo - "No teu poema" - 1976

O dramatismo e a sublime fatalidade de um povo que eu conheço.


"No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida

No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o mundo

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora d'Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha

No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vezes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do mundo
Existe tudo mais que ainda me escapa
É um verso em branco à espera
Do futuro"

Um imenso Obrigado ao José Luís Tinoco (Poema e Música), ao José Calvário (Orquestração) e ao Carlos do Carmo (a Voz)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um livro e um almocinho





Lembram-se do Sr. João Rendeiro?

Sim, daquele senhor banqueiro que em finais de Novembro do ano transacto se lembrou de lançar um livro sobre a sua história de sucesso na Banca.
Intitulava-se a brochura "João Rendeiro, Testemunho de um Banqueiro".
O ano de 2008 teve os mesmos dias de todos os outros anos. O BPP foi fundado em 1996 pelo referido senhor. Teve 12 anos este senhor de sucesso para escolher um dia para lançar o seu livro de receitas de sucesso na Banca.
Pois não senhor!
Escolheu precisamente o dia em que o seu Banco faliu: lançou um livro sobre o seu sucesso na Banca - e no caso concreto, à frente dos destinos do BPP - no preciso dia em que o seu Banco dava o estoiro com um buraco do tamanho do ozono todo.
Primeiro simbolismo.

Mas a história não ficou por aqui...

João Rendeiro foi ontem ao almoço mensal do American Club, na qualidade de convidado. O almoço decorreu na sala White Plaines do hotel Sheraton e contou com uma intervenção de vinte minutos de oratória do nosso banqueiro de sucesso.
Divagou o orador sobre a crise mundial, em momento algum se lembrou do BPP, e pediu a Deus que abençoasse Obama e a América , dizendo a dada altura uma frase premonitória que começava assim: "... neste dia cheio de simbolismo..."

E o que é que isso tem de anormal ou digno de registo? perguntam vocês.

Só isto: ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, saltou para a ribalta noticiosa a falência da Privado Holding, que controla a totalidade do capital do BPP e do prejuízo de 247 milhões que o senhor de sucesso deixou na altura em que abandonou a presidência do banco - de que também era principal accionista.
Mais um simbolismo.
É que os simbolismos não lhe dão mesmo sossego. É desgraça garantida...

Bom, resta acrescentar que, ao que consta, o senhor falou muito bem mas não terá convencido ninguém a alimentar a oratória com perguntas. Consta-se também que o almocinho era assim a atirar para o pobrezinho e pouco faltou para que constasse da ementa o tal pratinho de jaquinzinhos com arroz de tomate.
Este senhor Rendeiro, pelos vistos, já teve melhores dias...
Dizem que se dedicou à arte, à inclusão social e à beneficência associativa!...
Acredito... Eu já estou por tudo! Percebia-se que, sim senhor!

Texto:©José Tereso / Fonte: Correio da Manhã /Imagem:jornaldenegocios.pt

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Publicidade com pó: Omo


Imagem: jmgs.fotosblogue.com

Herman Jose - Tony Silva - "Um Peixe"

As pontes vão voltar à ordem do dia. E o país vai mesmo para obras.
Anos nos separam deste Tony Silva. Contudo, porque razão não damos por eles?
Parámos no tempo?
Se não formatarmos o disco, o Tal Canal continuará eternamente actual...
Sina de peixe.

Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado

Manifesto anti-Dantas (Final), de José de Almada Negreiros, dito por Mário Viegas.
E temos, e sempre tivemos, tão bons portugueses...

Pensamentos: Crise




EUGÉNIO GUDIN

1886 - 1986 (Rio de Janeiro)

Economista, Ministro da Fazenda

"Uma nação em crise não precisa de plano. Precisa de homens."




Aonde pára a inovação? É que é muita!...









Já não consigo ver televisão ou ler jornais sem esboçar um sorriso.
A situação começa a preocupar-me porque, avançando eu na idade, temo que aqueles que comigo convivem julguem que padeço de alguma patologia que me leva a rir sem motivo aparente ou a rir-me daquilo que costuma enegrecer o semblante de muitos.
Tardei a aperceber-me disso mas, a dada altura, estando eu a ver o Gato Fedorento com cansado interesse, mudei de canal para ver o bloco noticioso da SIC Notícias.
E, quando dei por mim, já estava de "tacha arreganhada" a rir-me com dois vultos do ilustre e multifacetado panorama político deste pobre país.
É que o despique verborreico das duas criaturas era, de longe, mais lúdico e mordaz que o discurso chato do Diogo Quintela.

Declaro, antes do mais, que não sou contra o PSD, nem contra o PS, nem contra o PCP, CDS e Bloco de Esquerda. Mais declaro que também não sou a favor de nenhum deles. E termino declarando que reconhecendo a necessidade da Política, reconheço a inutilidade da totalidade da classe política que se serve da Política no meu país. Aos restantes, dou-lhes o benefício crítico da dúvida...

A política, em Portugal, protagonizada pelos profissionais da política portugueses, tornou-se um um filão anedótico que, pelo primarismo e basismo dos intérpretes, tornou o humor uma coisa banal e de fácil apreensão.
Até um leigo como eu - que sentia, muitas vezes, dificuldade em perceber algumas anedotas mais trabalhadas - "entra" com facilidade no fio condutor dos discursos e antecipa-lhes o fim com a sonoridade de generosas e compensadoras gargalhadas.
Por onde têm andado estes humoristas?!... E que lufada de ar fresco trouxeram ao triste e contido quotidiano de um vulgar cidadão como eu.
E pensar eu que, até há bem poucos anos, poucos portugueses tinham a mestria de nos fazer rir...
Ainda mesmo agora, por exemplo, tive de me largar a rir...

Porquê?!... Ponham-se nisto:
O Dr. António Borges, um economista de eleição, um vice-presidente de um Partido de eleição - um dia, confirmar-se-á esta minha profecia - , um leal seguidor das musculadas doutrinas de eleição da Dra. Manuela Ferreira Leite, visionário como poucos e congressista como muitos, disse um dia, algures no verão de 2008, que não acreditava na crise. E continuou, dizendo que o "subprime" é "uma das melhores inovações dos últimos anos", que a "crise" era apenas uma "correcção", um estado natural que sequenciava alguns excessos. Acrescentava ainda que o cenário de recessão era impensável, podendo apenas acontecer algum abrandamento económico, uma certa desaceleração, não mais que isso. A Europa "está muito segura e melhor armada para fazer frente aos problemas"
Terminou, depois de tudo ter dito, dizendo: "...é difícil prever como as coisas vão acabar".

Eu ouvi, eu li tudo isto. Tudo isto foi dito por este Doutor Economista e Político, num jantar-debate na Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial. O que ele brilhou... Quanta inovação. Que visão...

Passaram-se os meses. Outros jantares terão passado, provavelmente.

E eis que hoje, dia 21 de Janeiro, o mesmo Doutor Economista e Político de eleição - a excepção só poderá confirmar a regra - diz o seguinte:
«A credibilidade do Governo para traçar um cenário, preparar um orçamento, dar algumas balizas aos portugueses para que possam melhor reagir à crise está completamente em estilhaços», declarou António Borges, na sede do PSD.
«O Governo vem agora admitir que qualquer previsão e qualquer orçamento pode ter de ser mudado a qualquer instante. Aqui está como se amplifica a crise, os piores efeitos da crise, como se aumenta a incerteza, como se mina a confiança de todos. Tudo porque, desde o início, o engenheiro José Sócrates nunca quis optar pela prudência, poupando aos portugueses surpresas cada vez mais desagradáveis», acrescentou.
E mais:
O vice-presidente do PSD, António Borges, acusou o Governo de falta de prudência nas previsões económicas, considerando que a sua atitude «amplifica a crise» e deixou a sua credibilidade «completamente em estilhaços».

Resta-me acrescentar que também eu, reconhecendo a dificuldade de prever como as coisas vão acabar, serei Doutor, Economista e Político num dia destes porque por detrás do "subprime", e dessa força inovadora, há um mundo por descobrir e desabrochar...
E agora... deixem-me implodir em gargalhadas porque já não me contenho mais.
Texto:©José Tereso/Fonte: portugaldiário/Imagem: bankruptcylitigationblog

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Livre... é quando um homem quiser.




O Dr. Santana Lopes, aqui há uns tempos, entendeu – e bem – desalinhar do alinhamento multicolor da SIC.
Sendo convidado, sendo a sua opinião julgada consumível e apelativa, viu-se subitamente relegado para o sótão da fama, substituído pelas imagens de um carro que transportava um treinador de futebol. Ficaram as imagens da viatura, do sujeito que nele se transportava e de um repórter órfão e pendurado em explicações, fazendo lembrar um “sniper” frustrado com o alinhamento da alça da mira, face a um golpe de vento.
Indiferente ao “furo” informativo, viu o Dr. Santana Lopes o verdadeiro e genuíno furo mediático: abandonar o local para onde fora convidado, na legítima aplicação do articulado da Arte de Bem Receber.
E surtiu efeito… O que, de facto, suscita a reflexão é o súbito aplauso que a atitude mereceu, quando ela deveria ser tão-somente uma consequência lógica e coerente à manifesta irracionalidade na gestão de prioridades de conteúdo e ao desrespeito da hierarquização das personagens.
E convidado… é convidado.
Não serve para “deixas” ou para “encher” quebras rítmicas ou de audiência. Não sei – mas penso saber – se outros “vultos” da área política, perante situação semelhante, assumiriam aquela atitude e o risco do ónus da mesma.
O Dr. Santana Lopes assumiu-a, arriscou… e ganhou.
Bem que vieram os gestores de “alinhamentos” e “prioridades” justificar as opções e as omissões.
Bem que a Sr.ª. Ana Lourenço se ajeitou, sem jeito, na cadeira para dar alindar argumentos.
Em vão… os donos dos alinhamentos não contavam com o toque de "génio" do desalinhado. O ponto estava ganho… Irreversivelmente.
Porque numa terra de cegos quem tem olho é rei.
As televisões regem-se por picos de audiência… não por mensagem. O curioso, nesta situação, foi ver a mensagem já em desequilíbrio e prestes a estatelar-se, ser ela própria o cume do pico.
É que nem sequer se trata de uma questão de estatuto.
Estatuto seria, sim, o Dr. Santana Lopes, ou um qualquer Special One, entrar “em directo”, interrompendo um anúncio a uma qualquer marca de óleo para fritar, ou a um actimel qualquer.
Até lá, ser livre é só uma obrigação.
Vale para a SIC.
Vale para o Sr. Ricardo Costa e para a Sra. Ana Lourenço. Vale para o Dr. Santana Lopes.
Vale... livremente!
Texto:©José Tereso / Imagem: Sic Notícias

Uma menoridade inconveniente











Por alturas da Feira de Maio, em Leiria, visitei uma tenda detida por uma Associação Regional de Protecção e Acolhimento de Animais Abandonados.
Visitei-a por duas ou três vezes, durante o mês, e em qualquer delas demorei-me a observar visitantes e visitados e o modo como se relacionavam com os observados (cães e gatos).
Sensibilizou-me o particular carinho e cuidado de duas ou três representantes da Associação que ali estavam em tarefa de aconselhamento para os potenciais interessados em adoptar "abandonados". Em curtos diálogos tentei, também eu, perceber o que leva uma pessoa, anónima e graciosamente, a prescindir de algumas horas por semana para se dedicar à recolha, tratamento e protecção de infelizes gatos e cães que, a toda a hora, são largados à rua por, não menos infelizes, donos.
Tarefa nobre e que merecia um pouco mais de atenção e incentivo por parte da sociedade civil e das autarquias.

Tenho pelo animais, na justa proporção, o mesmo posicionamento que tenho com os meus iguais. E se os sem abrigo me merecem particular reflexão e atenção, também aos animais abandonados não regateio o tempo que possa perder a reflectir e a protegê-los.
É o abandono que me toca, não o abandonado.

Durante as visitas que fiz, tive oportunidade de assistir à adopção de alguns dos animais que estavam em exposição. Na maioria das vezes em que isso ocorreu, apeteceu-me incarnar o papel de Provedor do adoptado e impedir a consumação da adopção.
A adopção, só se concebe de uma maneira: responsavelmente.
De outra forma, tudo não passa de satisfazer caprichos de puto, frustrações de casais com crises de maturidade, tentativas de salvar relacionamentos mal preparados, exortar fantasmas de domésticas com crises de vocação ou, simplesmente, confiar ao animal a penosa tarefa de, por nós, aturar o malcriado do catraio, isto depois de o "anormalóide" já ter chagado a vida da avó...

Tenho pena de o dizer como digo, mas não me apetece ser "soft" nesta matéria.

É confrangedor assistir ao raciocínio de algumas pessoas nos momentos que antecedem a adopção de um animal abandonado. É confrangedor assistir aos diálogos que se travam entre os adultos e as crianças que se preparam para adoptar um animal abandonado.
É miserável a maneira como passados dias, às vezes no próprio dia, abandonam um animal a quem deram uma esperança de conforto.

Todos os dias me cruzo com animais abandonados. Também pessoas. E nestes encontros com desencontrados da vida não escapo, eu próprio, a um profundo mau estar e a uma incómoda passividade. Mas jamais brincaria com expectativas, sentimentos e falsos hrizontes.

Em tempos tive uma cadela que fui buscar à rua e a que, por se encontrar doente e com marcas no corpo que prenunciavam um mau fim, pouca gente "se chegava" a dar comer ou água. Levei-a para casa, lavei-a, tratei-a, mimei-a e assim viveu 13 anos em minha casa, recuperando,também na rua, o afecto e a popularidade que miúdos e graúdos lhe haviam, em tempos, negado. Morreu no sossego da minha casa, acompanhada por quem a acompanhou sempre, nos maus e nos bons momentos. Tal quadro havia de me impedir, até hoje, de voltar a repetir o gesto.
Egoisticamente, resguardo-me do sofrimento.

E isto para dizer que, se tivesse de adoptar um animal abandonado, não precisaria de nenhuma Feira de Maio para o fazer. A rua é, infelizmente, uma imensa Feira.
É uma questão cultural. Tão cultural e civilizacional quanto o é o Natal que convencionámos generosamente ser no dia 25 de Dezembro, data em que todos vamos às Feiras de Maio da nossa consciência e vertemos aquela lágrima de catálogo que reservamos para ocasiões especiais.
O que se passa nas Feiras de Maio com os animais, também se passa nas chamadas "petshops", onde o abandono " à consignação" tem "pedigree" e "Lop". A questão aí só varia porque se interpõe o dinheiro. No resto, nos restantes detalhes, somos muito parecidos e culturalmente muito pobres. E miseráveis, nalguns casos.

E escrevi estas linhas, onde me apetecia ser bem mais cáustico e definitivo nos nomes das coisas, porque li, na imprensa de Leiria, esta semana, que a Associação com que iniciei esta crónica, vem denunciar o abandono massivo de animais domésticos, sendo que muitos donos justificam o acto com a actual crise financeira. Outros, fiquei a saber, só não o fazem porque, sendo o animal "chipado", daí resultaria a sua identificação.

Somos assim: no anonimato somos sempre fortes, grandes, destemidos e "assumidos".

Outras razões são invocadas mas de cariz tão baixo que me recuso a escrever e descrever detalhes. Basta a pequenez dos protagonistas. E o que é pequeno é, por si só, um mero e insignificante detalhe, nestes particulares casos.

Nunca os cães e os gatos imaginaram aonde podia chegar o longo braço do "subprime" americano ou o inqualificável egoísmo e miserabilismo da condição humana.
Esperemos que a crise passe, que o petróleo e a Euribor desçam e que, misericordiosamente, alguns de nós cresçam ou aproveitem para ganhar espinha dorsal ou calcifiquem a cartilagem que lhes sustenta a irresponsabilidade e a menoridade boçal.

É urgente... porque com esta "cultura" não vamos seguramente a lado nenhum, nem nunca ninguém nos tomará a sério...
Porque não o somos.
Texto:©José Tereso / Imagem:rpalmela.blogspot.com

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Herman Enciclopedia - Baptista Bastos - Valadares

O Herman que nos ensinou a rir...

Pensamentos






François-Marie Arouet
(pseudónimo, Voltaire)
1694 - 1778
Escritor, ensaísta e filósofo francês
"Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo."

Relatório de Piquete - II




1. INSTALAÇÕES (Continuação)

c) Abismado e mal refeito com as manifestações culturais dos vitrais, depressa passei ao extâse quando, num breve passeio de olhos, reparei que nos 4 cantos da sala de espera - pegada ao ól e à porta de entrada - pendiam, num suave balançar, 4 estrondosas teias de aranha que, a atentar no rendilhado geometricamente complexo e no diâmetro já razoável, por ali deviam permanecer há muito, muito tempo.


Os descobridores portugueses nos 4 cantos do Mundo e a as aranhas nabantinas nos 4 cantos do Piquete. Era uma imagem histórica e carregada de simbolismos...

Qual desleixo, qual porra! Aquilo era místico.

Ali estavam aqueles rendilhados a lembrar aos mais insensíveis o quanto o tempo, a distracção da vassoura e o engenho de um aracnídeo, permitem. A partir de determinada altura, é arte. E a arte não se destrói.
História... isto é história, é amor à terra que nos viu nascer... é criar raízes, nem que seja no piquete. É ficar... enquanto outros se vão.
Não eram já teias de aranha: eram ateliers de filigrana e joalharia.


A ornamentá-las, as respectivas obreiras: 4 vistosas aranhas, de idade já avançada, a julgar pelo tamanho das patas. Pelo rendilhado pendiam ainda restos mortais de outros bichinhos mais incautos ou clandestinos que, na febre da emigração, acabaram por se meter onde não eram chamados. E lá estavam, naquele parque temático, restos de mosca, de mosquito, de moscardo, de melga e traça. Um iniciático museu de história natural ou uma exposição sobre desastres aeronáuticos, onde o insecto voador - atrevido ou pouco lesto - era o tema.


Procurei pelas as paredes - em vão - uma placa que assinalasse encontrar-me nalguma Reserva Natural ou nalgum Parque Temático. Mas não... aparentemente, as aranhas tinham-se ali instalado ao abrigo de algum Acórdão de Repovoamento ou de alguma deliberação camarária e isto porque não era verosímil que tivessem escapado à fúria das limpezas ou má manipulação de um cabo de vassoura.
Aquilo só podia estar autorizado. E das duas uma: ou os funcionários que ali trabalhavam eram todas da protectora dos animais ou então a Câmara tinha cedido, ad aeternum, o espaço a tudo o que era bicheza, ao abrigo de uma qualquer birrinha e capricho da Europa Comunitária.
E achei bem... até porque o lince ibérico não é mais importante que a pulga nabantina ou a aranha templária. Se é para proteger a bicharada... e se uns são filhos da mãe, os outros não podem ser filhos da pulga!.


Nem eu, nem a Zabel, nos atrevemos a perturbar aquele equilíbrio ecológico e, se já lá estavam, ali deveriam perpetuar as gerações vindouras... No fundo, aquilo até dava um toque surrealista às instalações, podendo sempre vir a ter interesse para o estudo da evolução das espécies. E as melgas, mesmo as caídas em desgraça nas teias que o tempo tece, há muito pedem que a gente se debruce, seriamente, sobre o seu caso.

d) Passei da emoção a um copioso e genuíno pranto de alegria quando verifiquei que as paredes que sustentavam a estrutura das teias de aranha apresentavam uma cor mate amarelada com nuances e "madeixas". Para ser mais preciso e técnico: um badalhoco-mate-texturado com veios de branco.
E que vida dava aquela cor ao ól... Que sensibilidade e bom gosto ali estava plasmado. Aquilo não eram paredes pintadas a trincha e rolo; aquilo eram divagações pictóricas, saídas das mãos de diversos mestres e de diferentes sensibilidades...
Aquilo era a história da pintura e do design gráfico através dos tempos: desde a antiga Monarquia até à actual Rebaldaria.
Por momentos assaltou-me a ideia de poder entrar por ali dentro um pato bravo ou um pintor de biscate, empunhando uma trincha ou pincel de pelos serrados e desatar a pintar as paredes com aquelas cores de catálogo, sempre uniformes e cansativas. Tipo... "homem da Barbot", a exemplo do emproado "homem da Regisconta".
É que lá se iam as dedadas, as palmares, restos de gelado e resquícios fossilizados de macacos do nariz que, aqui e ali, davam um toque impressionista e efeito de "alto relevo" ao emparedado do ól.
Tanta gente, anónima e artisticamente deu o seu contributo para aquele resultado. Tanto miúdo ali rubricou o seu génio... (gente que tardiamente descobriu que a água - esse bem precioso - também serve para lavar as mãos e as fossas nasais). Gente que, sem frequentar as Belas Artes, ali deixou motivos de estudo e de reflexão sobre os caminhos da pintura e que confrontam os mestres com a verdade suprema: também da caca se faz arte.
Não... Também aquilo era de preservar.

Também aquilo era arte: rupestre, equestre, barroca ou, simplesmente, badalhoca.

Que importa... Era arte, e a arte nem sempre é bem compreendida. Nem toda a gentinha tem cultura para perceber a arte... E ali havia-a, segura e abadalhocadamente.
Como é que alguém poderia pensar em destruir aquele amarelo torrado com aqueles floreados artísticos com um bocado de lixívia, um pano molhado... ou mesmo uma trincha.
Só por inveja ou heresia...

(continua)

Texto:©José Tereso / Imagem:afaceesp.org.br

domingo, 18 de janeiro de 2009

Por Amor a Portugal - Dulce Pontes

Cumpre-te, Pátria amada.

Com 3 zês é que era inédita...




Uma padaria de Turquel - Alcobaça passou a confeccionar pizzas, incluindo nos seus ingredientes maçã e pêra rocha.
A iniciativa é, sem dúvida, uma iniciativa. Mais uma, esta com o louvável propósito, e isso concedo, de promover os produtos da região. Já a promoção do estabelecimento me parece mais corriqueira e deixa-me algumas interrogações quanto à valoração daquilo que a SIC on-line faz do que é potencialmente noticiável.
Longe de ser inédita, diferente, mais saudável e menos plástica, conforme afirmam os proprietários da padaria e a SIC faz eco, o projecto de pizza com maçã e pêra é só mais um a juntar à imensidade de pizzas que recorrem à fruta como ingrediente. Dizer que as pessoas têm a ideia generalizada de que a pizza é comida de plástico mas que com a inclusão da pêra e da maçã o deixará de ser, parece-me ousado e pretensioso. Tão pretensioso quanto o afirmar-se que com uma pêra e uma maçã se revoluciona o conceito de pizza, como o querem os proprietários da padaria.
A pizza era um alimento de pessoas humildes do sul de Itália, onde surge o termo "picea", na cidade de Nápoles, considerada o berço da pizza. "Picea", era um disco de massa assada com ingredientes por cima. Servida com ingredientes baratos, por ambulantes, a receita destinava-se "matar a fome", principalmente da parte mais pobre da população. Normalmente a massa de pão era coberta com peixe, toucinho e queijo.
Dos pobres aos ricos, também nas pizzas, vai a distância que o dinheiro permite. Daí que, desde o toucinho à lagosta, passando pela pêra rocha e pela maçã, tudo a pizza consente e está sempre disposta, com o mesmo círculo, a matar a fome do pobre ou aguçar o requintado paladar do rico.
Tudo é ingrediente. Tudo, salvo seja, a palha d'aço não joga bem com o queijo, embora corte a acidez de algum tomate.
Revolucionar a pizza, no meu conceito, seria escrevê-la com 3 zês e recheá-la com um bom cozido à portuguesa.
Assim se fazem notícias em Portugal. Assim se promovem padarias em Portugal.
Plásticas, ambas, mas com sabor a pêra e maçã.

Very tipical...

Texto:©José Tereso / Imagem:flickr.com

Antiguidades da TV: "As Aventuras de Rin Tin Tin"


Imagem: mofolandia.com.br

A Flober - dito por Mário Viegas

"A Flober" de Mário Henrique Leiria, em "Contos do Gin Tónico".
Palavras ditas pelo saudoso Mário Viegas.

Borda D'Água - O Almanaque





Nasceu há 80 anos, o Borda D'Água.
Dei por ele nos finais dos anos sessenta, numa altura em que o meu pai prezava o seu conselho e companhia, a propósito disto e daquilo. Lembro-me que quando comecei a ir à Cova do Vapor (Trafaria) para banhos, o meu pai acertava sempre com a maré baixa. Eu não sabia nadar e a maré baixa dava muito jeito porque me devolvia o ego. Para mim era magia: acertar nas marés. Tardei a perceber que as idas à praia eram precedidas, às escondidas, da prévia consulta do Borda D'Água. Não era o meu pai, afinal, que acertava. Era o Borda D'Água. E também era o Borda D'Água que lhe dizia quando plantar a salsa e hortelã nos vasos da varanda e lhe ensinava truques e mezinhas para isto e para aquilo.
Pois é... 80 anos de vida e 300.000 exemplares de tiragem anual.
Parabéns Borda D'Água. Parabéns à Editorial Minerva e a todos quantos colaboram neste almanaque.
Porque há coisas que permanecem... Sóbrias, rigorosas e com história. E criam afectos.

Assim fossem outras...

Texto:©José Tereso / Imagem: globpt.com

sábado, 17 de janeiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A doutrina do bode expiatório







"Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão." - Edmund Way Teale







A doutrina expiatória apenas tem cabimento na justiça divina: somente ela concebe a ideia de um substituto ou bode expiatório para crimes humanos.

Muitas civilizações e culturas acolheram a ideia de que uma forma de apaziguar a ira dos deuses, passava pelo sacrifício de humanos ou animais. De Maias a Cristãos, há um rasto de sangue de vítimas inocentes sacrificadas a bem da desresponsabilização colectiva.
E isto a propósito - e salvaguardadas as devidas proporções - da figura de Oliveira e Costa e de todo o dourado embrulho que oculta a recente estória do BPN.

O bode expiatório está, obviamente, escolhido. Resta saber se com ele se apazigua a ira dos deuses e a vergonha dos demais, alguns tão impunemente imorais.

O que Miguel Cadille expôs, a propósito do caso BPN, na comissão Parlamentar de inquérito é de uma gravidade que roça a ordinarice e o descaramento.
Ao que eles chegam... A quem confiámos a defesa dos valores, dos princípios, da ética, do leme, do rumo e da governação?!...

Não me entra com facilidade a ideia de que apenas Oliveira e Costa - o mau da fita - foi responsável pela constituição de 94 off-shores que, liminarmente, serviam para camuflar trafulhices sobre falcatruas.

O bode expiatório poderá apaziguar qualquer deus, mesmo um menor, mas é impensável que a Justiça dos homens possa aceitá-lo em sacrifício para desresponsabilização de, certamente, muita gente que meteu, descarada e ilegitimamente, dinheiro ao bolso e que brincou com as poupanças de quem vive do salário e que as dava à guarda do BPN, na presunção que lidava com gente séria e de bem.

A César o que é de César. Mas o César visível, assim tudo o faz crer, é um postal ilustrado de um polvo enorme e poderoso com tentáculos na elite política e governativa.
O Tempo o dirá, se coragem houver para isso.
Haja vergonha!...
Texto:©José Tereso / Imagem: William H. Hunt

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

La Pequeña Compañía - Boleros

Canções de toda uma vida.
Histórias musicais de um romantismo que se perdeu pelos tempos.
Que hei-de eu fazer à minha incontida latinidade?
Com isto recuei a 1978...

Da paixão ao crime




"Nada de grande se fez sem paixão" ( Hegel)
Os chamados crimes passionais trespassam, de quando em vez, o nosso quotidiano informativo.
Mas o que é que a paixão tem a ver com a prática de um crime?

A paixão pode sequenciar o crime… potencia-o, bastas vezes. Não é um paradoxo… Não é uma fatalidade. O crime passional que, genericamente, se associa ocorrer entre pessoas que têm, ou tiveram, um envolvimento sexual ou amoroso não é, simplisticamente, um crime de "amor" porque a paixão também não é sinónimo disso mesmo.
Para entendermos o crime passional precisamos de escalpelizar a paixão: pode resultar do amor, e incendiá-lo, e então é calma e terna – sendo muitas vezes intensa e inquieta; pode surgir do ódio, do sofrimento, da revolta, da mágoa e tornar-se descontrolada, destrutiva e cruel.
A paixão é marginal… mas absolutamente possessiva. A paixão ficciona territórios e feudos… unilateralmente. O amor gere-os… solidariamente.
Este é o fosso.
Daí que, sem esforço, se possa derivar para esta afirmação: se a paixão é a mola do crime, então o amor ausentou-se, em dado momento; talvez nunca tenha chegado a existir.
O crime passional não é um crime de amor… independentemente de, na barra dos tribunais, ser, maioritariamente, o pretexto recorrente. A paixão desencadeia mecanismos possessivos que a não serem sublimados geram frustração e esta, por sua vez, silenciosamente, vai larvando um surdo sentimento de revolta. É nesta fase que surge a vontade de destruir, de "lavar" a rejeição e, já em fase terminal, punir quem se afasta da relação. A paixão é híbrida e de contornos pouco esclarecidos: social, ou anti-social, a paixão é, será sempre, inquietante, premeditada, arrebatada e consequente… para o bem, para o mal. Não é um estado transitório que pode, pontualmente, desencadear emoções violentas – figura tão presente e juridicamente invocada na maioria dos crimes passionais. É um estado crónico, patológico (bastas vezes) duradouro e obsessivo… e muito intenso e intolerante.
No crime passional, raramente há explosão… Mas, necessariamente, há implosão.
Esta implosão é a causa necessária e idónea para a formulação do ímpeto criminoso. A análise objectiva dos quadros e cenários envolventes, e presentes nos crimes de índole passional, revela-nos, bastas vezes, que houve na paixão um exercício premeditado e frio onde o interveniente activo, na violência, purga o seu narcisismo e ego.
A paixão gerou ao longo dos tempos acesas discussões… e visões díspares da mesma problemática e o curioso é que, ainda hoje, a máquina judicial é fértil em (des)entendimentos e jurisprudência que, na súmula, nos faria recuar aos aristotélicos e aos estóicos.Duas correntes histórico-filosóficas tentaram definir-lhe os contornos:

Aristóteles defendia que a paixão era intrínseca ao ser humano não devendo ser, pois, extirpada ou condenada. Platão e o estoicismo viam na paixão uma barreira e uma força que devia ser contrariada e vencida.
Embora a visão aristotélica da paixão a desse como uma fatalidade, conseguia ainda assim determinar que virtuoso era aquele que conseguia agir em harmonia com as suas paixões como se a paixão pudesse ser "educada": para a visão aristotélica a paixão não era em si um mal, ou causa dele, mas sim um regulador que dava unidade e estilo à conduta humana. O estoicismo, em oposição, considerava a paixão (o pathos) um obstáculo à razão (o logos). A paixão em nada contribuía para a perfeição do carácter, assumindo que o apaixonado – o refém do seu pathos – era um ser irremediavelmente perdido.Estas duas visões, aqui simplisticamente reduzidas, suscitaram - e suscitam - profundas e decisivas questões ético-ideológico-económicas ligadas hoje à noção de psicopatologia e, decorrente disso, ao entendimento do que é, de facto, a saúde mental ,e de que forma a temos que abordar.
Se, por um lado, Aristóteles considerava que o sujeito devia gerir a sua paixões, numa unidade harmoniosa com a razão, o estoicismo reduzia os apaixonados, vítimas do pathos, a irresponsáveis e inimputáveis nas suas acções.
O que está em discussão nestas duas posições e que afecta tanto os que padecem de sofrimento mental como os que se propõem cuidar dele, é a questão da responsabilidade: e se a visão aristotélica a entende, já a estóica a restringe. Se, num posicionamento, deve entender-se o pathos para dele tirar proveito, no outro, o pathos deve ser destruído por tratar-se de uma doença. É esta a perspectiva – a estóica - que, ainda hoje, advoga o argumento de que o refém da paixão, o subjugado por ela – o que, em fase terminal, o materializa num crime passional, por exemplo – tem a culpabilidade reduzida ou atenuada. A visão aristotélica, pelo contrário, ao assumir a paixão como constitutiva e intrínseca ao indivíduo, cabendo a ele a sua adequada gestão, condena o seu mau uso, devendo este ser punido por "gestão danosa", se assim se pode dizer, sem atenuantes.
E aqui chegamos ao interminável braço de ferro entre o normal e o patológico: ou o pathos é causa de conduta, susceptível de ser gerido por conceitos éticos, ou o consideramos como doença que aliena o protagonista reduzindo-o a um mero objecto, a carecer de cuidados especializados. Actualmente, a fronteira que separa os dois conceitos de pathos – o passional e o patológico – estreita-se. Há um invariável deslocamento do domínio da ética para o da terapêutica. E no momento em que no embrião dos padrões de comportamento do indivíduo pululam pulsões cuja génese ele ignora, a paixão passa a ser entendida como um "outsider interno" que, em vez de se harmonizar à vida do sujeito – visão ética – é submetido a um procedimento que visa o seu exorcismo – visão terapêutica. Neste contexto, tratar as paixões remete-nos para as catalogar e lidar com elas como uma disfunção, isto é, não mais entendê-las como intrínsecas ao indivíduo com as quais ele tem de saber conviver, mas sim como algo perturbador que não se submete ao seu controle.
A contemporaneidade assume o indivíduo apaixonado como isento de culpa, apenas doente: cada vez mais iremos assistir à terapêutica ocupar o lugar da ética; o desvio no lugar do erro; e a cura no do castigo. Há como que uma travestização (o termo poderá ser forte) que leva a que, hoje, a exigência de "normalidade" seja maior; embora, neste particular, o delito (o crime passional) não seja mais imputado a uma incapacidade de controlar as paixões – ao pathos/passional – mas, antes, a uma doença – ao pathos/patologia - .
O homicídio passional, juridicamente privilegiado, é o paradigma do crime passional. Parece-me não o esgotar mas preenche-lhe os contornos e tipifica-o claramente. O homicídio é quase sempre fruto de factores aleatórios e são eles que "disparam" a execução. Mesmo com premeditação, o homicídio, na sua execução, é condicionado por factores exógenos, de tal forma que não raro se assume que " é o crime que todos podemos – e somos capazes – de cometer" .
Do ponto de vista sociológico defende-se mesmo que se há situações em que o ditado popular " a ocasião faz o ladrão" tem aplicabilidade, no homicídio enquadra-se na perfeição. Em Portugal o homicídio passional sempre reclamou a sua quota estatística no panorama delituoso, muito embora, nos últimos anos (15/20) a sua percentagem entrasse em decréscimo, reclamando para si, sensivelmente, uma décima parte do universo delituoso de cariz violento. Por detrás desta descida efectiva estão razões que se prendem com uma reformulação das mentalidades que, gradualmente, evoluíram no sentido da fragilização dos preconceitos e das tradições que marginavam o casamento e a monogamia. Também a desertificação do interior – a dita província – que durante muitos anos constituiu o cenário tradicional deste tipo de crime – proximidade das pessoas e a exigência de "lavar a honra" nos casos de adultério e calúnia – contribuiu decisivamente para o decréscimo de ocorrências.
Aliás, o homicídio passional, no caso português, é tão característico como o é o homicídio rural (também ele potenciado pela interioridade geográfica): nos domínios onde o sentimento de "propriedade" e "honra" é muito mais vincado e inflexível. As cidades diluem estes sentimentos e desvinculam, por um maior anonimato, os intervenientes. Factores como a desertificação, a debandada da população para as cidades e para o estrangeiro, com a consequente reformulação e flexibilização de conceitos e culturas, contribuíram decisivamente para que este tipo crimes – passional e rural - decrescesse.
Mas numa visão mais abrangente poderíamos admitir que os povos latinos vivem as suas paixões e paixonetas com peculiar intensidade. Com a mesma intensidade com que aceitam, ainda que inconscientemente, os desenlaces trágicos e, não raro, revelam compreensão, empatia e mesmo desculpabilização pelo homicida passional. Ainda hoje e apesar da avalanche de novos conceitos, culturas, conhecimento e formas de estar, a mulher adúltera é estigmatizada, enquanto o homem é, tão só, um "garanhão". Nos depoimentos dos autores de homicídios passionais extrai-se sempre a ideia de que assim agiram por terem sido vítimas de uma afronta insuperável, encontrando no seu acto – no derramamento de sangue da vítima – a única saída para a lavagem da honra. Não está subjacente às motivações para o acto a iminência de perderem o objecto da sua paixão mas apenas a incapacidade de conviverem com a ideia de serem feridos no amor-próprio.
As diferentes redacções do Código Penal que, desde 1852, foram tipificando e punindo o crime passional libertaram-se, gradualmente, da "latinidade" a que há pouco me referia mas, ainda assim, o fundamento da "compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou motivo de relevante valor social ou moral, atribuem ao acto de matar um cariz "de privilégio" que atenua a culpa do agente do crime. E muito embora a culpa exista, o acto é julgado e "compreendido" à luz de um universo de condicionantes "emotivas" que fragilizam aquela. O homicida passional não tem genes psico-morfológicos que permitam traçar-lhe um perfil criminal. Como bem alguém referiu, este é o tipo de crime que qualquer um de nós pode e sabe cometer. Há, sim, na minha opinião, um perfil situacional ou circunstancial que pode predispor ou criar condições para a execução do crime.
Daí que, tal como atrás referi, o crime passional não resulte de "flashes emotivos" mas de um processo lento de auto-comiseração.
Duas situações – circunstâncias – assumem-se como potenciais motivadores: a dependência e possessão.
Na dependência, um dos actores – homem ou mulher – projecta no seu parceiro a sua fonte de vitalidade.Por insegurança muitas vezes. Esta dependência e "solicitude" requer e exige presença e/ou reciprocidade. A falha de uma destas traves mestras pode empurrar o "carente" para o desespero que, não raras vezes, conduz ao suicídio, para a raiva, por sobreposição à idolatria - só sublimada no desaparecimento físico da causa (o outro).
Na possessão, um dos actores assume para si que o funcionamento da relação exige o exercício da sua autoridade e controle porque só assim consegue estimular o seu desejo. Se outro alarga o seu universo afectivo, de tal modo que estabelece quotas de afectividade, o detentor da "posse" vai vendo a sua área de controlo reduzida e, no limiar da tolerância – e cada qual terá os parâmetros dela – rompe, definindo para si que "se não é meu, não será de mais ninguém".
Esta análise situacional, ou circunstancial, é ajustável aos dois sexos, ou mesmo entre afectividades de indivíduos do mesmo sexo (nestes caso particular, com desenlaces de extrema violência).
O mundo actual, a globalização, a pequenez a que a individualidade está condenada gera no "eu": fortes sentimentos de desamparo perante a torrente dos acontecimentos, e a noção de descartabilidade que as coisas, os valores e as pessoas vão assumindo. Este sentimento de desamparo, esta relação de desamparo com o mundo leva-nos, cada vez mais, a procurar quem nos conceda o amparo afectivo, o abrigo que nos resguarde do turbilhão.
Quando este amparo falha, ou é espartilhado, há uma reacção.

No limite… pode ser violenta.
Texto:©José Tereso / Imagem: tribunadonorte.com.br

Rei morto



Imagem: sxc/hu

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Os Homens também podem ser anjos









A ler a imprensa desportiva cruzei-me com uma crónica que fazia uma retrospectiva da "era" Scolari.
No meio de alguns elogios, de algumas questões sobre opções tácticas e de considerandos sobre a "boa onda" que varreu Portugal e os portugueses, lá apareceu a história do pretenso "soco" no Dragutinovic.

Confesso-me admirador do Sr. Scolari.
Fiquei-lhe grato pelo que, através da sua "arte", fez pelo meu país. Há muitos anos que eu não via muita coisa que o Sr. Scolari tornou visível: o querer, a crença, o orgulho de ser português. Não me lembro de ninguém - correndo o risco de cometer uma injustiça - conseguir pôr um país a decorar e cantar o Hino a plenos pulmões e sem receios. A dado momento, parecia que os portugueses tinham descoberto que os "heróis do mar, nobre povo, nação valente" tinha tudo a ver com eles e que não era menor sê-lo: herói, nobre, valente e imortal.

Não percebo muito de futebol. Não tenho qualificação técnica para avaliar tecnicamente o trabalho do Sr. Scolari. Não tenho conhecimentos que me permitam escalpelizar as suas opções e critérios, dentro e fora do balneário.
Haverá, porventura, quem tenha conhecimentos, experiência e percurso que o anime a escalpelizar a lusa carreira do Sr. Scolari.
Deixou o Sr. Scolari alguns amargos de boca a umas quantas "damas ofendidas", a alguns "intocáveis", aos "habituais" sem concurso nem "casting". Aos "imprescindíveis", por uso e costume.
Sinceramente, em momento algum, senti a falta de todos estes. Também, sinceramente, sinto que já era tempo de olharem para o seu umbigo e de terem algum respeito pelas opções e pela avaliação que os outros, num todo e num contexto, fazem deles.

Mas voltando à "mancha": o murro no jogador Dragutinovic.

Se outro exemplo de "mancha" não encontrasse no universo dos "respeitáveis" e dos que estão proibidos de errar, utilizava aqui - respeitosamente - a recorrente imagem de Jesus Cristo que, esquecendo tudo quanto se escreveu em manuais de etiqueta e que a linhagem aconselhava, distribuiu uns bons "bufardos" nuns quinquilheiros que resolveram transformar o Templo numa feira de "Lacostes" e "DVD's" de legendagem duvidosa.
A Bíblia Sagrada viria a perpetuar aquilo que não passou de umas "lambadas" bem dadas a quem as estava a pedir. O Dador - Jesus Cristo - deu-lhes a dimensão que elas não tiveram.
Um homem não é de ferro!... E Jesus Cristo era um homem.

E ao longo da história dos povos sempre houve quem as "estivesse a pedir". Havendo receptor, o círculo tem de ser fechado: inevitavelmente, um dia, contra todas as leis e previsões, aparecerá o dador. E o nome, a estatura, as habilitações académicas, a cor do sangue e a aura pouco ou nada poderão condicionar o desfecho.
Um homem de carne e osso, não é de ferro. O senhor de La Palisse diria isto muito melhor que eu.
Jesus Cristo, terrenamente, fez o que lhe ocorreu.
E Scolari? Fez ele o que devia? Poderia ter não feito?
Para mim, Scolari terá sempre o benefício da dúvida: quem confunde matraquilhos com pingolim e Banco com Caixa, é expectável que se confunda com um Dragutinovic...
Deixou Portugal mal visto, dizem os moralistas...
Há muito boa gente que deixou - e deixa todos os dias - este país em muito mau estado. Alguns nem passam de uns bananas moles e invertebrados...
Scolari pouco tem de banana e muito menos de invertebrado. E não é de ferro.
E vamos lá:
O Dragutinovic pôs-se a jeito... O Scolari, dava-lhe o quê? Um Magalhães? Uma Nova Oportunidade?
Escolheu bem... Eu também ia por aí!
O homem tem fé mas não é santo!
Texto:©José Tereso / Imagem:globoesporte.globo.com

Relatório de Piquete - I












Aos vinte e nove dias do mês de Julho de 1995 D.C., por cerca das 08H30 TMPC (Tempo Médio de Palhavã de Cima), eu, funcionário subalterno Zé, bem acolitado pela minha colega e igualmente subalterna do género feminino, Zabel Espanhola, deslocámo-nos para a Alameda Um do Terceiro Mês do Ano, onde, no número e vinte e noves fora nada, piso térreo, nos apresentámos devidamente uniformizados para tomarmos conta do piquete da Fábrica.


Assim que cheguei ao ól (hall é outra coisa) de entrada, o funcionário menos subalterno, Sr, Xico Canseira disse-me com aquele ar de algodão doce que só ele consegue fazer:

- Não tenho nada pendurado!

Eu já ia para ali sem muita coisa, até vontade, mas fiquei, perante aquela tirada, sem outra coisa: palavras!
Passado o impacto...acreditei!
- Se ele o diz é porque é verdade... Mesmo assim, com o incómodo, ainda levei a mão ao fecho éclair para confirmar se eu estava na mesma condição...
Não, ainda não... 24 horas depois, logo se veria!

Depois do Xico Canseira sair da situação de funcionário, mais ou menos subalterno, e regressar à situação de pessoa normal, fiz eu o percurso inverso... e deixei de ser normal.
Eu e a Zabel.
Daquilo que observei nestas 24 horas, neste peculiar espaço, e por me cumprir informar, passo a contar tudo sem nada esconder.

Assim:

1. INSTALAÇÕES

a) Constatei com particular alegria e agrado que o vidro panorâmico e fosco que decora a parede exterior do nosso edifício - e aquele que serve a montra deste serviço - permanece partido e com um buraco que, muito embora não tenha a fama e publicidade do congénere do ozono, é um buraco...
Já por alturas da Assinatura do Tratado de Tordesilhas, aquele mesmo buraco no vidro prometia um dia emoldurar um qualquer serviço público. Gerações passadas, arestas já limadas e a mesma vontade férrea de não ser substituído. Nem a Marinha Grande constituiu motivo para que, com a proximidade, a coisa se resolvesse por osmose. Mas nada... A excepção a confirmar a regra: há coisas de difícil substituição mas também as há, irremediavelmente, insubstituíveis.
Tal constatação só me pode trazer alegria porque vejo a preocupação de ser conservada a história do edifício. Não sei há quantos anos ali permanece aquele buraco no vidro mas a avaliar pelo fosco que apresenta não me admiraria que fizesse já parte do património cultural da cidade sendo impensável suprir, com uma merdice de um vidro novo, a história de um buraco. Foram gerações de templários, chefes e subalternos que deleitados o miraram com admiração e orgulho.
Poderá o buraco ter defeitos, não ser bonito, não ter pedigree... mas tem impresso nas arestas a garra e o génio de quem o partiu e não o mandou substituir. Há toda uma história na origem daquele vazio. E isso é bonito!
E sobretudo este buraco é nosso... e não da maralha como é o caso do buraco do ozono.
E nisto de buracos cada um faz os que quer... (mas depois não venham com ADN's e paternidades...)


b) Foi com redobrada emoção, e não conseguindo evitar um lágrima mais afoita, que reparei que o pó e a sujidade que protege os envidraçados das instalações, mantém a traça original. Muito embora o aspecto possa impelir o observador descuidado a tentar desentranhar a camada de pó, tal não deveria ocorrer.
E não ocorreu, até porque os gatafunhos e escritos cuidadosamente impressos no pó, pelos dedos criativos de todos quantos por ali foram passando, devem ser preservados. Vejam o que se passou em Foz Côa...
Também isto é arte... e a bonecada desenhada no pó dos vidros confere-lhes uma ambiência de vitral. É um estilo rocócó. A textura não deixa dúvidas, mesmo a leigos.
Emocionado com a manifestação artística, também eu humedeci a pontinha do indicador, com fragrâncias a nicotina, e lá deixei, para a posteridade, um bonequinho e um "amor de mãe" que tão bem ali ficou.
A Zabel Espanhola optou por um "Angola, 1966 - 3º Batalhão".
Resisti à tentação de apagar um "Lava-me, porco!". Achei mal o comentário mas não se apaga a história porque há quem diga que ela se repete... Apagar, para quê? Se mais tarde se perpetuarão os porcos e os escribas de vitral?!...
Ficou bonito. Fica bonito como está, porra!
(Continua)
Texto:©José Tereso / Imagem: afaceesp.org.br

Antiguidades - Publicidade


Imagem: jmgs.fotosblogue.com

Do estudo acompanhado para exames de 2ª época...




No dia em que o desaparecimento de Maddie McCann volta a ser tema da imprensa nacional, a propósito da vinda de Gerry McCann a Portugal, recordo aqui uma crónica que escrevi para o "Conversa com lobos" em Agosto de 2007 e numa altura em que o casal, já em Inglaterra, se preparava para responder, por escrito, a 40 perguntas elaboradas pela PJ e que, supostamente, deveriam esclarecer melhor os acontecimentos...



Decididamente o casal McCann não acredita na avaliação surgida "nas provas de aferição" da 1ª época...

Não são só eles... Outros passam pelo mesmo problema.
Querem agora a repetição de exames - o que é legítimo -, querem estudar as respostas às 40 perguntas da "prova oral" no sossego do lar, fora dos olhares indiscretos da "alcoviteirice" dos polícias portugueses - o que, admitindo legítimo, me parece um sinal de quem está pouco à vontade.
Com um aconselhamento jurídico de muitos zeros à esquerda da vírgula, com a inabalável fé da sua assessora "prá imagem" - que me lembra sempre o ex - Ministro do Interior do Iraque - acredito que o casal McCann consigo acertar nas respostas ou "maquilhar" uma nova versão dos factos, agora menos intempestiva e desleixada que a anterior.
Fosse eu pai da Maddie e estivesse eu empenhado na sua procura, bem me podia a Polícia passar "trabalhos para casa" que eu pura e simplesmente me borrifava nisso e nenhum "ruído" me afastaria de minha procura e, lá para a frente, haveria de aparecer - o Tribunal havia de o arranjar - um qualquer defensor oficioso que, sem zeros à esquerda da vírgula, lendo os mesmos livros dos outros, regendo-se pelas leis vigentes, haveria, com facilidade e no local próprio, de dizer à Polícia que não basta mandar "atoardas"; é preciso que elas sejam mais do que isso e que, gradualmente, materializem indícios.
Parece-me que os McCann acreditam - e eu, infelizmente, também o vou acreditando - que a justiça é coisa de pobre e o Direito é coisa de rico...
Que a Justiça é uma visão Terceiro-Mundista do Direito, deve ser isso que eles pensam... ou que lhes dão a acreditar.
Gostaria que o que vem no catálogo - aquela senhora de vestido comprido, com os olhos vendados, com uma balança na mão e uma espada na outra, que a gente se habituou a chamar de Justiça - é o que diz o rótulo - não fosse mais um caso de "publicidade enganosa".
No Direito já eu não acredito há muito e só por um motivo: não tenho dinheiro, e em matéria de "influências" tenho a certeza que o Xico Merceeiro que mora por baixo da minha casa, não mo emprestava porque achava que a "verdade" não se compra...
Coisas de gente antiga... parola!
Os meninos são hiperactivos... diz ela (Kate), a mãe extremosa e reservada.
Pois... antigamente os miúdos (como eu) não eram hiperactivos: estavam sempre muito quietinhos, não brincavam, não faziam mal ao gato... eram uns vegetais adoráveis.
Até dava gosto ter filhos... Com a descoberta da hiperactividade das crianças, surgiram também os pais hiperactivos...
Oxalá - quero acreditar - que a hiperactividade desta mãe "de cultura muito saxónica" não lhe tenha dado para fazer uma coisa pior do que fazer mal ao gato... Continuo a acreditar mas, por vezes, sou assaltado por pressentimentos.

É que, na generalidade dos casos, hiperactividade poderia rimar com inimputabilidade...

O Direito se encarregaria disso.

É claro que só ponho isto como mera hipótese, não vá aparecer um guardião do rigor a dizer que já estou a julgar e a aplicar a pena...
Estou a falar por mim, pai: eu procuraria a minha filha desaparecida e para o fazer não precisava de advogados.

A Polícia não se haveria de importar! Nem deveria...
A culpa a quem a merecer. E que a senhora da balança não fique a assobiar para o lado... distraída ou a ajeitar a venda.
Maddie merece-o. Todos os desaparecimentos o merecem e exigem.

Texto:©José Tereso / Imagem:3horasdeponta.blogspot.com