domingo, 30 de novembro de 2008

Dos hooligans, dos autistas e dos parolos...





Li uma crónica, no Correio da Manhã de hoje, escrita pelo senhor Emídio Rangel.

Para ser verdadeiro e honesto: nunca simpatizei com o senhor, diga-se em abono da verdade.
Tem-se por muito importante, para o meu gosto. E só o meu cíclico mau gosto me leva a escrever estas linhas e dar-lhe aquilo que ele gosta: palco.

A crónica intitula-se "os Autistas". Está correcto. Até aqui, tudo bem...
Cada um fala e escreve daquilo que percebe.

Em tempos, este senhor jornalista, no mesmo jornal e numa crónica com igual tom, desancou desapiedadamente tudo quanto era professor, colando-lhes o rótulo de hooligans.
Agora, coube a vez aos sindicalistas... São autistas!
Para fundamentar o seu raciocínio, fala numa monumental catástrofe económica e passa a descrever, sempre muito preocupado e ternurento, as perdas de lucros dos maiores bancos e empresas da nossa praça.

Tadinhos!... Tadinhos dos amosquitinhos!... Todos amanhadinhos... Foi o primeiro pensamento que me ocorreu quando li aquilo.

É que no mesmo jornal, umas páginas mais à frente, vinha o BPI a anunciar lucros. E lucros maiores dos que os que têm os restaurantes, como bem diz um outro senhor - que é senhor presidente da Associação de Bancos.
Depois, não contente com apelar à nossa compaixão para com a perda dos lucros de quem está, suspeitosamente, por detrás desta "monumental catástrofe", como diz o senhor, passa a ter pena de todos os países que até agora estavam bem e que passaram a estar mal. Portugal, que esteve sempre mal, não entra no rol. Os portugueses que estiveram sempre mal - ainda os outros estavam bem - também não interessa...

Ocorreu-me um pensamento, posto em canção, por Patxi Andion, quando dizia "...eu não sei falar de fome. Não a tenho".
Este senhor quer falar de fome - e eu não lhe passei procuração - sem nunca lhe ter passado pela cabeça, tê-la.

Até que passa à indignação, a roçar a má-linguagem: porque os sindicatos - que não terão pena daquilo que o senhor jornalista tem - exigem do governo um pouco mais do que 2,9% de aumentos.
Bom, chegado aqui, o senhor jornalista, em linguagem clara e concisa - já o tinha percebido noutros escritos -, apelida os sindicalistas de PAROLOS.
"ESTES PAROLOS", é a expressão utilizada.
E porquê?
Porque, continua o senhor, com aumentos superiores à proposta inicial do governo, o país caíria num buraco-negro.

Não tenho palavras...

Não sei se este senhor tem vivido cá ultimamente mas, se esteve fora, aconselhava-o a deixar de falar para o seu umbigo e procurar inteirar-se junto dos amigos porque é que Portugal, de há uns anos para cá, ainda não saiu do tal buraco-negro.

Não se põe a hipótese de ir... Já lá está, e há muito...

Contudo, e no entretanto, os senhores que estão a perder lucros - de quem o senhor tem muita pena e com quem está muito preocupado -, apesar de o buraco ser negro, nunca deixaram de amealhar lucros exorbitantes e fazerem divagações financeiras - e outras com outro nome - que, por fim, conduziram o país ao estado em que se encontra... Ao mesmo tempo, que disparavam lucros e lucrozinhos, eram pedidos sacrifícios e encolhas aos que o senhor quer continuar a ver encolhidos...

Disso não fala o senhor. Disso não sabe, o senhor, escrever...
Porque, lá está... não tem fome.

Apavora-se com milhares e milhares de trabalhadores com ordenados congelados há anos a esta parte, a quem agora o governo quer dar um rebuçado: não para lhes devolver o poder de compra (esteja descansado que a gente não fica mais rico que o senhor, nem recebemos indemnizações para estarmos quietos) mas apenas para tentar travar uma monumental catástrofe social que pode degenerar numa coisa que nem queira o senhor experimentá-la.

Ai, os sindicalistas é que são, agora, os culpados da crise e dos buracos que cada um foi fazendo, com as cores que lhes ocorreram...
Não sou sindicalista. Não nutro particular simpatia por alguns sindicalista e por alguns entendimentos sindicalistas. Sou só cidadão.
Estou à vontade.

E estou à vontade para lhe dizer, como cidadão - com um nome próprio que, a exemplo do seu, também começa por letra grande -, que todos temos direito à nossa opinião.
Importava, sobretudo, que ela fosse cuidada e não fosse periférica.
Chamar parolos aos sindicalistas, não os faz parolos. É pena que com a vontade com que os desancou, não sobrasse da mesma uma réstea que levasse a prosa a ir ao cerne do problema.

E tudo isto é triste... Porque é fado!
Quanto às suas apreensões bancárias e empresariais, não se moa... Eles não se perdem!
Nós é que nos vamos perdendo neste lamaçal... Opinativo, também.

Nota: Só tratei alguma gente - por senhor - porque sou bem educado...

©J.Tereso

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