Imagem: funnyjunk.com
domingo, 19 de abril de 2009
Tinha de sobrar p'ra mim!...
Imagem: funnyjunk.com
Lonjuras marginais e doídas interioridades
A gente um dia envelhece a ver os outros crescer. A gente um dia percebe o drama que esconde o maravilhoso mistério da vida.
Um dia dei comigo a envelhecer. Apercebi-me que alguém ao meu lado crescia. Apercebi-me que alguém ao meu lado começava a questionar a vida, recusando-se a aceitá-la como até então.
Comecei a aperceber-me dos olhares, dos silêncios, das lonjuras do pensamento, das viagens interiores, das dores e apreensões silenciadas...
Como tudo é tão perceptível...
Como é bom ter vivido tudo isso, para que agora perceba tudo aquilo.
Como é bom perceber-te, Rita... Nas distâncias, nas viagens, nas doídas interioridades.
Longe, também pode ser aqui...
Mas não... Nunca deixarei que o longe aconteça. O longe, entre nós, nunca fará sentido.
A vida também nos ensinará a enganar as distâncias e a perceber, afinal, o quanto nos falta, ainda, crescer.
Fica bem... Sempre!
Imagem: ©Ana Rita C. Tereso
Baía dos náufragos
Sem leme. Sem vela, nem estrelas para me guiar, abandonei-me à corrente e aos ventos que sobraram para me levar.
Foram dois longos meses de deriva, de sopros, de luas e marés.
Um dia de Abril cheguei à baía.
E que Abril continue... Sempre!.
Ainda que náufrago... Mesmo que náufrago.
Imagem: ©Ana Rita C. Tereso
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Pouca Vergonhagate
Prosseguiu ontem, no Tribunal de Paris, a audiência de julgamento, conhecida por "Angolagate", que aborda a "venda ilegal" de armas russas a Angola e corrupção, sendo referenciado o eventual envolvimento, nos ilícitos, de altas personalidades francesas e angolanas, nomeadamente a do Presidente José Eduardo dos Santos.
Pierre Falcone, referenciado como cérebro do negócio, terá pago mais de 500 mil euros a cerca de 50 raparigas que, entre 1997 e 2000, acompanharam, na capital francesa, ministros e altos funcionários angolanos. Para além de dinheiro, as acompanhantes eram recompensadas com prendas suplementares. A recrutadora das acompanhantes chegou mesmo a comprar, para os angolanos, lugares para assistirem a partidas no Torneio Roland Garros e alugado um camarote no Estádio de França para o Mundial de 1998, este "mimo" na módica quantia de 300 mil euros.
Não há ainda arguidos constituídos.
No Verão do ano transacto, numa deslocação a Lisboa, vi-me na necessidade súbita de prolongar a estadia, sendo-me reservado um quarto no Hotel Sana-Malhoa. Cumpridas as habituais formalidades, desloquei-me para o bar do hotel para relaxar o final de tarde de um dia complicado. No balcão do bar estavam 3 africanos, de ar muito executivo, que, de voz e discurso amplificado, arrasavam desapiedadamente tudo quanto era português, endeusando as maravilhosas nuances da sua "democracia", da sua estratégia empresarial, da sua economia, da sagacidade e "savoir faire" do seu "renascido" país.
Tudo isto enquanto se deleitavam com sucessivos e sôfregos balões de James Martin's de 20 anos. O volume do som e as "atrocidades" que tive ouvir "em fundo" foram redobrando de intensidade e perdendo em fluência. É que foram muitos e continuados balões...
Nem eu, nem um casal brasileiro, nem os dois empregados de serviço ao "regadio", em momento algum, reprovámos, por gestos, esgares de expressão ou intervenção, aquele caudal de inverdades, imprecisões, soluços, inflexões barítonas, distorções de voz e raivinhas mal contidas.
Só faltava mesmo o arroto para o quadro ser pleno.
Limitámo-nos, atónitos e condescendentes, a assistir ao desempenho daqueles "novos senhores" das democracias "emergentes" de uma África vandalizada por "democratas" de fato fino.
Desconheço quem eram, ao que estavam e quem representavam. Sei apenas que vestiam bem - muito bem -, tresandavam a Jean Paul Gautier, calçavam "luvas" de pele vistosa, bebiam do bom e do melhor e ofendiam o país de acolhimento ou visita com linguagem desbragada, de quem está mal com a vida... De quem não acredita que o James Martin's, aos vinte anos, com meia dúzia de balões, começa a mentir muito...
Penso - quero acreditar - que nem todos serão assim. A maioria, garantidamente, não é. Mas o cartão de visita foi entregue... Minoritário mas elucidativo.
Pagaram por aquele "desempenho" em dinheiro vivo aquilo que 4 ou 5 famílias africanas - que não têm relações com o James Martin's nem conhecem o Gautier - disporão, por mês, para se governarem razoavelmente. Os empregados do bar agradeceram com sorrisos de orelha a orelha, o que também não me deixou muitas dúvidas quanto ao motivo.
Saíram para a noite com um destino: forró e gajas. É que nem pejo tiveram em o denunciar com pompa, circunstância e topo de gama com cicerone, à porta.
Não me espantam os 500 mil euros de gajas, os 300 mil de camarotes, os Volkswagens Polo de prenda e outras luxúrias desta nova casta de "donos do mundo", envolvidos no Angolagate.
No meu Sanagate, a coisa, com as devidas proporções, deu para perceber e adivinhar tudo.
Infelizmente, este postal ilustrado estende-se a muitos feudos e condados; não só alguns africanos - que falam português - serão os maus da fita. Nós por cá, também temos a nossa galeria de figurões e de figurinhas que, com o dinheiro dos outros, tratam o James Martin's por tu e o Gaultier pela alcunha.
E é pena. Porque é vergonhoso e imoral.
Até quando esta pouca vergonhagate se passeará impunemente?!...
Medina Carreira, SICN, 10.12.08 (1/6) - Negócios da Semana
Medina Carreira: que pena só haver um!...
Oi! Tuta... Já não te via há bué...
Como é que aquela porra do gel consegue pôr um gajo, que até já estava bastante estragado e cheio de refegos e pés de galinha, com uma carinha nova, bronzeada, bem escanhoada e sem aquelas peles que tanto atormentam as múmias da brigada do croquete e que mal lhes seguram os óculos de dormir.
Poupam na comida mas gastam-no nas fotografias, ora porra para o negócio!
Depois lá está: empenham o peixe-palhaço do aquário - que serviu para duas recepções -, vendem o caniche com a desculpa que se dá mal com o recuperador de calor, dão uma aulas de sushi com umas amostras de carapau maluco que caiu da caixa na lota, para depois entregarem os aéreos ao paparazi que as flagrou, pontualmente, à hora marcada de entrarem na festa e momentos antes de devolverem a vestimenta ao pronto a vestir e de entregarem o carro que pediram emprestado porque o delas tinha uma folga nos platinados, uma vela stressada ou a panela de escape com queimaduras de 3º grau.
É que nem há silicone nem papa, nem entulho de qualidade nenhuma que lhes encha os vácuos e os vazios...
É que aquilo levantou logo invejas e malquerenças e enquanto não enterraram o homem não descansaram e, claro, aos 19 finou-se.
Vai daí, entraparam-no de noite, fizeram-lhe uns taipais e sarcófago com ele... e por lá ficou esquecido um porradão de anos, sem ver luz.
O que te desejo é que te sintas bem com a gente e não te rales com as visitas, com a humidade, a concorrência das tias, os tiques do Ronaldo e as desventuras do Benfica. Carga nisso!
Nem com trapos nem com promessas.
Publicidade com pó: Mariani Wine
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Pensamentos: Estratégia
Filhos do deserto
Finda a visita, levantou aquelas melindrosas questões que correram "mundo": "Porque é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?"
Para evitar o óbvio e o pavio, apressou-se a concluir com um: "Eu não acredito que tenha desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao Mundo".
Há dias em que não se pode visitar o Interior do País: chegamos com uma preocupação, depressa arranjamos mais duas e ainda arranjamos crença para dar como certo o entusiasmo luso, no mínimo para dar novas vidas ao Mundo.
Sinceramente, nem sei que lhe diga, Sr. Presidente.
No que a mim concerne, também lhe garanto que se vivesse na Guarda ou em Gouveia, com os frios que para aí vão, de uma coisa eu não me lembrava: fazer filhos.
Ir à Guarda em Novembro... escolham outro!
Se nalguma coisa o país começa a ter défice é, precisamente, em portugueses com entusiasmo. E não só para fazer filhos, mas sobretudo para aturar os filhos dos outros.
Não sei se na Margem Sul houve também quebras de entusiasmo. Penso que não. Contudo da desertificação também não escaparam...
E veio-me este atabalhoado texto à ideia porque, noticiava a Visão, que a Canon, no Japão, decidiu deixar, duas vezes por semana, os funcionários saírem mais cedo - 17H30 - levando, contudo, trabalhos para casa: fazer filhos.
Também o Japão se debate com uma "recessão" adicional: a taxa de natalidade.
É só seguir o exemplo japonês, Sr. Presidente da República, porque até temos afinidades: já andamos de olhos em bico há uma porrada de tempo!
Tenho reparado que, recentemente, as empresas portuguesas têm mandado para casa muita gente. Acho que não será propriamente com o intuito de reparar índices de natalidade...
Mas, uma coisa me ocorre: no desemprego e com a televisão penhorada ou vendida, pouco restará aos portugueses, sem entusiasmo, senão fazer filhos.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Memórias de baú: Navios
O fim do Mundo já não é o que era...
A oitava maravilha do Mundo
De pega em pega... até sermos pegados!
Faço parte do lote de pessoas que torcem, sempre, pelo touro: de cachecol e bandeira. Numa única situação reconheço alguma coragem aos naturais opositores do touro. Estão neste, particular caso, os forcados. E só não lhes reconheço a plenitude porque enfrentam o animal numa altura em que o mesmo já não é aquele que irrompeu pela arena.
Daí que a pega de "cernelha" me lembre sempre as cabazadas que a nossa Selecção antigamente levava, persistindo, mesmo assim, ser o vencedor "moral" do encontro.
E peguei na escrita por esta ponta porque o Ministério da Justiça acaba de conduzir o "teimoso" para os curros com uma brilhante pega de cernelha, salvuardadas as devidas proporções e analogias.
É verdade... Não conseguindo travar a onda visível de crescente criminalidade - a mesma que é sonegada, estatisticamente, há dois anos para cá - que decidiu escolher as caixas multibanco, distribuídas pelos Tribunais, como alvo apetecível e vulnerável, optou aquele Ministério por mandar retirar, imediata e urgentemente, as 32 caixas Multibanco existentes no interior de vários Tribunais do país.
No cerne de tal decisão, está a opinião do secretário de estado Adjunto e da Justiça, José Conde Rodrigues, que considera que "as 32 caixas ATM não estão encastradas em condições de segurança" no interior dos edifícios. Concluiu, dizendo que "a medida não apresenta quaisquer desvantagens para quem necessita de pagar serviços nos Tribunais, uma vez que tal é possível fazer-se nos terminais de pagamento ao balcão".
Para amenizar as conclusões que cada um retirará desta medida, apressou-se a dizer que " estão em curso medidas, orçadas em 8 milhões de euros, tendentes ao reforço da segurança dos tribunais".
Permitam-me, respeitosamente, a "comparança": não se conseguindo vergar o touro "de caras", pegou-se de "cernelha" ao tirar-se-lhe as caixas e agora, com os 8 milhões, vêm as adoráveis chocas convencer o touro a recolher-se aos aposentos.
Tipicamente português.
Quando toda a gente chamava a atenção dos profissionais da distracção que o crime aumentava, quantitativa e qualitativamente, à vista desarmada, vieram os ratos de gabinete esgrimir com estatísticas e comparações bacocas, tentando fazer passar por parvo o alarmado cidadão.
Só que estas coisas pagam-se. E a realidade ultrapassa a ficção. E o único realizador de cinema português que resiste ao tempo com currículo é o Manoel de Oliveira.
Deixem-se de fitas e saiam dos gabinetes. Mas a sério... porque o cheiro a naftalina já chega aos arrumos.
No que concerne aos Tribunais, acho salutar o investimento, sobretudo se pensarmos que os Tribunais poderão começar a cumprir cabalmente a sua função. É que bastava que cumprissem, com qualidade e celeridade, a sua função para que o investimento se reduzisse substancialmente e para que a segurança fosse um bem seguro, naturalmente. Nem 30, nem 400 guarda-costas, farão de mim um homem mais seguro... Quando muito, mais acompanhado. Mas apenas isso.
Também a população prisional actual mereceria uma avaliação suplementar. A actual população prisional custará ao erário público - e baseio-me em vozes e "apanhados" noticiosos - qualquer coisa como 400 euros/recluso. As visões economicistas do problema têm vindo a reduzir, e a arranjar argumentos, o leque de fundamentos que impliquem a reclusão de alguém. Mas chegámos a um ponto da linha em que, na mais podre e intocável liberdade, estarão potenciais - e bem mais perigosos - reclusos que, indevida e ilegitimamente, continuam a engrossar as estatísticas criminais, não sendo previsível o dia em que haja coragem para uma monumental pega "de caras", daquelas em que até o rabujador tem de dar o litro e fica com o rabo na mão...
Até lá... de "cernelha" e com 8 milhões, tentamos demover a fera. A ver se ela se cansa!
De pega em pega, e de cornada em cornada, não escaparemos ao desaire final.
Nem as "chocas" nos acompanharão.
sábado, 24 de janeiro de 2009
Carlos do Carmo - "No teu poema" - 1976
O dramatismo e a sublime fatalidade de um povo que eu conheço.
"No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o mundo
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora d'Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
O canto em vozes juntas, vezes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do mundo
Existe tudo mais que ainda me escapa
É um verso em branco à espera
Do futuro"
Um imenso Obrigado ao José Luís Tinoco (Poema e Música), ao José Calvário (Orquestração) e ao Carlos do Carmo (a Voz)
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Um livro e um almocinho
Sim, daquele senhor banqueiro que em finais de Novembro do ano transacto se lembrou de lançar um livro sobre a sua história de sucesso na Banca.
Pois não senhor!
Mas a história não ficou por aqui...
João Rendeiro foi ontem ao almoço mensal do American Club, na qualidade de convidado. O almoço decorreu na sala White Plaines do hotel Sheraton e contou com uma intervenção de vinte minutos de oratória do nosso banqueiro de sucesso.
E o que é que isso tem de anormal ou digno de registo? perguntam vocês.
Só isto: ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, saltou para a ribalta noticiosa a falência da Privado Holding, que controla a totalidade do capital do BPP e do prejuízo de 247 milhões que o senhor de sucesso deixou na altura em que abandonou a presidência do banco - de que também era principal accionista.
É que os simbolismos não lhe dão mesmo sossego. É desgraça garantida...
Bom, resta acrescentar que, ao que consta, o senhor falou muito bem mas não terá convencido ninguém a alimentar a oratória com perguntas. Consta-se também que o almocinho era assim a atirar para o pobrezinho e pouco faltou para que constasse da ementa o tal pratinho de jaquinzinhos com arroz de tomate.
Este senhor Rendeiro, pelos vistos, já teve melhores dias...
Acredito... Eu já estou por tudo! Percebia-se que, sim senhor!
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Herman Jose - Tony Silva - "Um Peixe"
As pontes vão voltar à ordem do dia. E o país vai mesmo para obras.
Anos nos separam deste Tony Silva. Contudo, porque razão não damos por eles?
Parámos no tempo?
Se não formatarmos o disco, o Tal Canal continuará eternamente actual...
Sina de peixe.
Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado
Manifesto anti-Dantas (Final), de José de Almada Negreiros, dito por Mário Viegas.
E temos, e sempre tivemos, tão bons portugueses...
Pensamentos: Crise
1886 - 1986 (Rio de Janeiro)
Economista, Ministro da Fazenda
"Uma nação em crise não precisa de plano. Precisa de homens."
Aonde pára a inovação? É que é muita!...
A situação começa a preocupar-me porque, avançando eu na idade, temo que aqueles que comigo convivem julguem que padeço de alguma patologia que me leva a rir sem motivo aparente ou a rir-me daquilo que costuma enegrecer o semblante de muitos.
Tardei a aperceber-me disso mas, a dada altura, estando eu a ver o Gato Fedorento com cansado interesse, mudei de canal para ver o bloco noticioso da SIC Notícias.
E, quando dei por mim, já estava de "tacha arreganhada" a rir-me com dois vultos do ilustre e multifacetado panorama político deste pobre país.
É que o despique verborreico das duas criaturas era, de longe, mais lúdico e mordaz que o discurso chato do Diogo Quintela.
Declaro, antes do mais, que não sou contra o PSD, nem contra o PS, nem contra o PCP, CDS e Bloco de Esquerda. Mais declaro que também não sou a favor de nenhum deles. E termino declarando que reconhecendo a necessidade da Política, reconheço a inutilidade da totalidade da classe política que se serve da Política no meu país. Aos restantes, dou-lhes o benefício crítico da dúvida...
A política, em Portugal, protagonizada pelos profissionais da política portugueses, tornou-se um um filão anedótico que, pelo primarismo e basismo dos intérpretes, tornou o humor uma coisa banal e de fácil apreensão.
Por onde têm andado estes humoristas?!... E que lufada de ar fresco trouxeram ao triste e contido quotidiano de um vulgar cidadão como eu.
E pensar eu que, até há bem poucos anos, poucos portugueses tinham a mestria de nos fazer rir...
Ainda mesmo agora, por exemplo, tive de me largar a rir...
Porquê?!... Ponham-se nisto:
O Dr. António Borges, um economista de eleição, um vice-presidente de um Partido de eleição - um dia, confirmar-se-á esta minha profecia - , um leal seguidor das musculadas doutrinas de eleição da Dra. Manuela Ferreira Leite, visionário como poucos e congressista como muitos, disse um dia, algures no verão de 2008, que não acreditava na crise. E continuou, dizendo que o "subprime" é "uma das melhores inovações dos últimos anos", que a "crise" era apenas uma "correcção", um estado natural que sequenciava alguns excessos. Acrescentava ainda que o cenário de recessão era impensável, podendo apenas acontecer algum abrandamento económico, uma certa desaceleração, não mais que isso. A Europa "está muito segura e melhor armada para fazer frente aos problemas"
Terminou, depois de tudo ter dito, dizendo: "...é difícil prever como as coisas vão acabar".
Eu ouvi, eu li tudo isto. Tudo isto foi dito por este Doutor Economista e Político, num jantar-debate na Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial. O que ele brilhou... Quanta inovação. Que visão...
Passaram-se os meses. Outros jantares terão passado, provavelmente.
E eis que hoje, dia 21 de Janeiro, o mesmo Doutor Economista e Político de eleição - a excepção só poderá confirmar a regra - diz o seguinte:
«A credibilidade do Governo para traçar um cenário, preparar um orçamento, dar algumas balizas aos portugueses para que possam melhor reagir à crise está completamente em estilhaços», declarou António Borges, na sede do PSD.
«O Governo vem agora admitir que qualquer previsão e qualquer orçamento pode ter de ser mudado a qualquer instante. Aqui está como se amplifica a crise, os piores efeitos da crise, como se aumenta a incerteza, como se mina a confiança de todos. Tudo porque, desde o início, o engenheiro José Sócrates nunca quis optar pela prudência, poupando aos portugueses surpresas cada vez mais desagradáveis», acrescentou.
E mais:
O vice-presidente do PSD, António Borges, acusou o Governo de falta de prudência nas previsões económicas, considerando que a sua atitude «amplifica a crise» e deixou a sua credibilidade «completamente em estilhaços».
Resta-me acrescentar que também eu, reconhecendo a dificuldade de prever como as coisas vão acabar, serei Doutor, Economista e Político num dia destes porque por detrás do "subprime", e dessa força inovadora, há um mundo por descobrir e desabrochar...
E agora... deixem-me implodir em gargalhadas porque já não me contenho mais.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Livre... é quando um homem quiser.
Bem que a Sr.ª. Ana Lourenço se ajeitou, sem jeito, na cadeira para dar alindar argumentos.
Vale para o Sr. Ricardo Costa e para a Sra. Ana Lourenço. Vale para o Dr. Santana Lopes.
Uma menoridade inconveniente
Visitei-a por duas ou três vezes, durante o mês, e em qualquer delas demorei-me a observar visitantes e visitados e o modo como se relacionavam com os observados (cães e gatos).
Sensibilizou-me o particular carinho e cuidado de duas ou três representantes da Associação que ali estavam em tarefa de aconselhamento para os potenciais interessados em adoptar "abandonados". Em curtos diálogos tentei, também eu, perceber o que leva uma pessoa, anónima e graciosamente, a prescindir de algumas horas por semana para se dedicar à recolha, tratamento e protecção de infelizes gatos e cães que, a toda a hora, são largados à rua por, não menos infelizes, donos.
Tarefa nobre e que merecia um pouco mais de atenção e incentivo por parte da sociedade civil e das autarquias.
Tenho pelo animais, na justa proporção, o mesmo posicionamento que tenho com os meus iguais. E se os sem abrigo me merecem particular reflexão e atenção, também aos animais abandonados não regateio o tempo que possa perder a reflectir e a protegê-los.
Durante as visitas que fiz, tive oportunidade de assistir à adopção de alguns dos animais que estavam em exposição. Na maioria das vezes em que isso ocorreu, apeteceu-me incarnar o papel de Provedor do adoptado e impedir a consumação da adopção.
A adopção, só se concebe de uma maneira: responsavelmente.
De outra forma, tudo não passa de satisfazer caprichos de puto, frustrações de casais com crises de maturidade, tentativas de salvar relacionamentos mal preparados, exortar fantasmas de domésticas com crises de vocação ou, simplesmente, confiar ao animal a penosa tarefa de, por nós, aturar o malcriado do catraio, isto depois de o "anormalóide" já ter chagado a vida da avó...
Tenho pena de o dizer como digo, mas não me apetece ser "soft" nesta matéria.
É confrangedor assistir ao raciocínio de algumas pessoas nos momentos que antecedem a adopção de um animal abandonado. É confrangedor assistir aos diálogos que se travam entre os adultos e as crianças que se preparam para adoptar um animal abandonado.
É miserável a maneira como passados dias, às vezes no próprio dia, abandonam um animal a quem deram uma esperança de conforto.
Todos os dias me cruzo com animais abandonados. Também pessoas. E nestes encontros com desencontrados da vida não escapo, eu próprio, a um profundo mau estar e a uma incómoda passividade. Mas jamais brincaria com expectativas, sentimentos e falsos hrizontes.
Em tempos tive uma cadela que fui buscar à rua e a que, por se encontrar doente e com marcas no corpo que prenunciavam um mau fim, pouca gente "se chegava" a dar comer ou água. Levei-a para casa, lavei-a, tratei-a, mimei-a e assim viveu 13 anos em minha casa, recuperando,também na rua, o afecto e a popularidade que miúdos e graúdos lhe haviam, em tempos, negado. Morreu no sossego da minha casa, acompanhada por quem a acompanhou sempre, nos maus e nos bons momentos. Tal quadro havia de me impedir, até hoje, de voltar a repetir o gesto.
E isto para dizer que, se tivesse de adoptar um animal abandonado, não precisaria de nenhuma Feira de Maio para o fazer. A rua é, infelizmente, uma imensa Feira.
É uma questão cultural. Tão cultural e civilizacional quanto o é o Natal que convencionámos generosamente ser no dia 25 de Dezembro, data em que todos vamos às Feiras de Maio da nossa consciência e vertemos aquela lágrima de catálogo que reservamos para ocasiões especiais.
O que se passa nas Feiras de Maio com os animais, também se passa nas chamadas "petshops", onde o abandono " à consignação" tem "pedigree" e "Lop". A questão aí só varia porque se interpõe o dinheiro. No resto, nos restantes detalhes, somos muito parecidos e culturalmente muito pobres. E miseráveis, nalguns casos.
E escrevi estas linhas, onde me apetecia ser bem mais cáustico e definitivo nos nomes das coisas, porque li, na imprensa de Leiria, esta semana, que a Associação com que iniciei esta crónica, vem denunciar o abandono massivo de animais domésticos, sendo que muitos donos justificam o acto com a actual crise financeira. Outros, fiquei a saber, só não o fazem porque, sendo o animal "chipado", daí resultaria a sua identificação.
Somos assim: no anonimato somos sempre fortes, grandes, destemidos e "assumidos".
Outras razões são invocadas mas de cariz tão baixo que me recuso a escrever e descrever detalhes. Basta a pequenez dos protagonistas. E o que é pequeno é, por si só, um mero e insignificante detalhe, nestes particulares casos.
Nunca os cães e os gatos imaginaram aonde podia chegar o longo braço do "subprime" americano ou o inqualificável egoísmo e miserabilismo da condição humana.
Esperemos que a crise passe, que o petróleo e a Euribor desçam e que, misericordiosamente, alguns de nós cresçam ou aproveitem para ganhar espinha dorsal ou calcifiquem a cartilagem que lhes sustenta a irresponsabilidade e a menoridade boçal.
É urgente... porque com esta "cultura" não vamos seguramente a lado nenhum, nem nunca ninguém nos tomará a sério...
Porque não o somos.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Pensamentos
Relatório de Piquete - II
1. INSTALAÇÕES (Continuação)
c) Abismado e mal refeito com as manifestações culturais dos vitrais, depressa passei ao extâse quando, num breve passeio de olhos, reparei que nos 4 cantos da sala de espera - pegada ao ól e à porta de entrada - pendiam, num suave balançar, 4 estrondosas teias de aranha que, a atentar no rendilhado geometricamente complexo e no diâmetro já razoável, por ali deviam permanecer há muito, muito tempo.
Os descobridores portugueses nos 4 cantos do Mundo e a as aranhas nabantinas nos 4 cantos do Piquete. Era uma imagem histórica e carregada de simbolismos...
Qual desleixo, qual porra! Aquilo era místico.
Ali estavam aqueles rendilhados a lembrar aos mais insensíveis o quanto o tempo, a distracção da vassoura e o engenho de um aracnídeo, permitem. A partir de determinada altura, é arte. E a arte não se destrói.
História... isto é história, é amor à terra que nos viu nascer... é criar raízes, nem que seja no piquete. É ficar... enquanto outros se vão.
Não eram já teias de aranha: eram ateliers de filigrana e joalharia.
A ornamentá-las, as respectivas obreiras: 4 vistosas aranhas, de idade já avançada, a julgar pelo tamanho das patas. Pelo rendilhado pendiam ainda restos mortais de outros bichinhos mais incautos ou clandestinos que, na febre da emigração, acabaram por se meter onde não eram chamados. E lá estavam, naquele parque temático, restos de mosca, de mosquito, de moscardo, de melga e traça. Um iniciático museu de história natural ou uma exposição sobre desastres aeronáuticos, onde o insecto voador - atrevido ou pouco lesto - era o tema.
Procurei pelas as paredes - em vão - uma placa que assinalasse encontrar-me nalguma Reserva Natural ou nalgum Parque Temático. Mas não... aparentemente, as aranhas tinham-se ali instalado ao abrigo de algum Acórdão de Repovoamento ou de alguma deliberação camarária e isto porque não era verosímil que tivessem escapado à fúria das limpezas ou má manipulação de um cabo de vassoura.
Aquilo só podia estar autorizado. E das duas uma: ou os funcionários que ali trabalhavam eram todas da protectora dos animais ou então a Câmara tinha cedido, ad aeternum, o espaço a tudo o que era bicheza, ao abrigo de uma qualquer birrinha e capricho da Europa Comunitária.
E achei bem... até porque o lince ibérico não é mais importante que a pulga nabantina ou a aranha templária. Se é para proteger a bicharada... e se uns são filhos da mãe, os outros não podem ser filhos da pulga!.
Nem eu, nem a Zabel, nos atrevemos a perturbar aquele equilíbrio ecológico e, se já lá estavam, ali deveriam perpetuar as gerações vindouras... No fundo, aquilo até dava um toque surrealista às instalações, podendo sempre vir a ter interesse para o estudo da evolução das espécies. E as melgas, mesmo as caídas em desgraça nas teias que o tempo tece, há muito pedem que a gente se debruce, seriamente, sobre o seu caso.
d) Passei da emoção a um copioso e genuíno pranto de alegria quando verifiquei que as paredes que sustentavam a estrutura das teias de aranha apresentavam uma cor mate amarelada com nuances e "madeixas". Para ser mais preciso e técnico: um badalhoco-mate-texturado com veios de branco.
E que vida dava aquela cor ao ól... Que sensibilidade e bom gosto ali estava plasmado. Aquilo não eram paredes pintadas a trincha e rolo; aquilo eram divagações pictóricas, saídas das mãos de diversos mestres e de diferentes sensibilidades...
Aquilo era a história da pintura e do design gráfico através dos tempos: desde a antiga Monarquia até à actual Rebaldaria.
Por momentos assaltou-me a ideia de poder entrar por ali dentro um pato bravo ou um pintor de biscate, empunhando uma trincha ou pincel de pelos serrados e desatar a pintar as paredes com aquelas cores de catálogo, sempre uniformes e cansativas. Tipo... "homem da Barbot", a exemplo do emproado "homem da Regisconta".
É que lá se iam as dedadas, as palmares, restos de gelado e resquícios fossilizados de macacos do nariz que, aqui e ali, davam um toque impressionista e efeito de "alto relevo" ao emparedado do ól.
Tanta gente, anónima e artisticamente deu o seu contributo para aquele resultado. Tanto miúdo ali rubricou o seu génio... (gente que tardiamente descobriu que a água - esse bem precioso - também serve para lavar as mãos e as fossas nasais). Gente que, sem frequentar as Belas Artes, ali deixou motivos de estudo e de reflexão sobre os caminhos da pintura e que confrontam os mestres com a verdade suprema: também da caca se faz arte.
Não... Também aquilo era de preservar.
Também aquilo era arte: rupestre, equestre, barroca ou, simplesmente, badalhoca.
Que importa... Era arte, e a arte nem sempre é bem compreendida. Nem toda a gentinha tem cultura para perceber a arte... E ali havia-a, segura e abadalhocadamente.
Como é que alguém poderia pensar em destruir aquele amarelo torrado com aqueles floreados artísticos com um bocado de lixívia, um pano molhado... ou mesmo uma trincha.
Só por inveja ou heresia...
(continua)
Texto:©José Tereso / Imagem:afaceesp.org.br
domingo, 18 de janeiro de 2009
Com 3 zês é que era inédita...
Uma padaria de Turquel - Alcobaça passou a confeccionar pizzas, incluindo nos seus ingredientes maçã e pêra rocha.
A iniciativa é, sem dúvida, uma iniciativa. Mais uma, esta com o louvável propósito, e isso concedo, de promover os produtos da região. Já a promoção do estabelecimento me parece mais corriqueira e deixa-me algumas interrogações quanto à valoração daquilo que a SIC on-line faz do que é potencialmente noticiável.
Longe de ser inédita, diferente, mais saudável e menos plástica, conforme afirmam os proprietários da padaria e a SIC faz eco, o projecto de pizza com maçã e pêra é só mais um a juntar à imensidade de pizzas que recorrem à fruta como ingrediente. Dizer que as pessoas têm a ideia generalizada de que a pizza é comida de plástico mas que com a inclusão da pêra e da maçã o deixará de ser, parece-me ousado e pretensioso. Tão pretensioso quanto o afirmar-se que com uma pêra e uma maçã se revoluciona o conceito de pizza, como o querem os proprietários da padaria.
A pizza era um alimento de pessoas humildes do sul de Itália, onde surge o termo "picea", na cidade de Nápoles, considerada o berço da pizza. "Picea", era um disco de massa assada com ingredientes por cima. Servida com ingredientes baratos, por ambulantes, a receita destinava-se "matar a fome", principalmente da parte mais pobre da população. Normalmente a massa de pão era coberta com peixe, toucinho e queijo.
Dos pobres aos ricos, também nas pizzas, vai a distância que o dinheiro permite. Daí que, desde o toucinho à lagosta, passando pela pêra rocha e pela maçã, tudo a pizza consente e está sempre disposta, com o mesmo círculo, a matar a fome do pobre ou aguçar o requintado paladar do rico.
Tudo é ingrediente. Tudo, salvo seja, a palha d'aço não joga bem com o queijo, embora corte a acidez de algum tomate.
Revolucionar a pizza, no meu conceito, seria escrevê-la com 3 zês e recheá-la com um bom cozido à portuguesa.
Assim se fazem notícias em Portugal. Assim se promovem padarias em Portugal.
Plásticas, ambas, mas com sabor a pêra e maçã.
Very tipical...
Texto:©José Tereso / Imagem:flickr.comA Flober - dito por Mário Viegas
"A Flober" de Mário Henrique Leiria, em "Contos do Gin Tónico".
Palavras ditas pelo saudoso Mário Viegas.
Borda D'Água - O Almanaque
Nasceu há 80 anos, o Borda D'Água.
Dei por ele nos finais dos anos sessenta, numa altura em que o meu pai prezava o seu conselho e companhia, a propósito disto e daquilo. Lembro-me que quando comecei a ir à Cova do Vapor (Trafaria) para banhos, o meu pai acertava sempre com a maré baixa. Eu não sabia nadar e a maré baixa dava muito jeito porque me devolvia o ego. Para mim era magia: acertar nas marés. Tardei a perceber que as idas à praia eram precedidas, às escondidas, da prévia consulta do Borda D'Água. Não era o meu pai, afinal, que acertava. Era o Borda D'Água. E também era o Borda D'Água que lhe dizia quando plantar a salsa e hortelã nos vasos da varanda e lhe ensinava truques e mezinhas para isto e para aquilo.
Pois é... 80 anos de vida e 300.000 exemplares de tiragem anual.
Parabéns Borda D'Água. Parabéns à Editorial Minerva e a todos quantos colaboram neste almanaque.
Porque há coisas que permanecem... Sóbrias, rigorosas e com história. E criam afectos.
Assim fossem outras...
Texto:©José Tereso / Imagem: globpt.com
sábado, 17 de janeiro de 2009
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
A doutrina do bode expiatório
"Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão." - Edmund Way Teale
Muitas civilizações e culturas acolheram a ideia de que uma forma de apaziguar a ira dos deuses, passava pelo sacrifício de humanos ou animais. De Maias a Cristãos, há um rasto de sangue de vítimas inocentes sacrificadas a bem da desresponsabilização colectiva.
E isto a propósito - e salvaguardadas as devidas proporções - da figura de Oliveira e Costa e de todo o dourado embrulho que oculta a recente estória do BPN.
O bode expiatório está, obviamente, escolhido. Resta saber se com ele se apazigua a ira dos deuses e a vergonha dos demais, alguns tão impunemente imorais.
O que Miguel Cadille expôs, a propósito do caso BPN, na comissão Parlamentar de inquérito é de uma gravidade que roça a ordinarice e o descaramento.
Não me entra com facilidade a ideia de que apenas Oliveira e Costa - o mau da fita - foi responsável pela constituição de 94 off-shores que, liminarmente, serviam para camuflar trafulhices sobre falcatruas.
O bode expiatório poderá apaziguar qualquer deus, mesmo um menor, mas é impensável que a Justiça dos homens possa aceitá-lo em sacrifício para desresponsabilização de, certamente, muita gente que meteu, descarada e ilegitimamente, dinheiro ao bolso e que brincou com as poupanças de quem vive do salário e que as dava à guarda do BPN, na presunção que lidava com gente séria e de bem.
A César o que é de César. Mas o César visível, assim tudo o faz crer, é um postal ilustrado de um polvo enorme e poderoso com tentáculos na elite política e governativa.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
La Pequeña Compañía - Boleros
Canções de toda uma vida.
Histórias musicais de um romantismo que se perdeu pelos tempos.
Que hei-de eu fazer à minha incontida latinidade?
Com isto recuei a 1978...
Da paixão ao crime
Mas o que é que a paixão tem a ver com a prática de um crime?
A paixão pode sequenciar o crime… potencia-o, bastas vezes. Não é um paradoxo… Não é uma fatalidade. O crime passional que, genericamente, se associa ocorrer entre pessoas que têm, ou tiveram, um envolvimento sexual ou amoroso não é, simplisticamente, um crime de "amor" porque a paixão também não é sinónimo disso mesmo.
Aristóteles defendia que a paixão era intrínseca ao ser humano não devendo ser, pois, extirpada ou condenada. Platão e o estoicismo viam na paixão uma barreira e uma força que devia ser contrariada e vencida.
No limite… pode ser violenta.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Os Homens também podem ser anjos
No meio de alguns elogios, de algumas questões sobre opções tácticas e de considerandos sobre a "boa onda" que varreu Portugal e os portugueses, lá apareceu a história do pretenso "soco" no Dragutinovic.
Confesso-me admirador do Sr. Scolari.
Não percebo muito de futebol. Não tenho qualificação técnica para avaliar tecnicamente o trabalho do Sr. Scolari. Não tenho conhecimentos que me permitam escalpelizar as suas opções e critérios, dentro e fora do balneário.
Haverá, porventura, quem tenha conhecimentos, experiência e percurso que o anime a escalpelizar a lusa carreira do Sr. Scolari.
Deixou o Sr. Scolari alguns amargos de boca a umas quantas "damas ofendidas", a alguns "intocáveis", aos "habituais" sem concurso nem "casting". Aos "imprescindíveis", por uso e costume.
Sinceramente, em momento algum, senti a falta de todos estes. Também, sinceramente, sinto que já era tempo de olharem para o seu umbigo e de terem algum respeito pelas opções e pela avaliação que os outros, num todo e num contexto, fazem deles.
Mas voltando à "mancha": o murro no jogador Dragutinovic.
Se outro exemplo de "mancha" não encontrasse no universo dos "respeitáveis" e dos que estão proibidos de errar, utilizava aqui - respeitosamente - a recorrente imagem de Jesus Cristo que, esquecendo tudo quanto se escreveu em manuais de etiqueta e que a linhagem aconselhava, distribuiu uns bons "bufardos" nuns quinquilheiros que resolveram transformar o Templo numa feira de "Lacostes" e "DVD's" de legendagem duvidosa.
A Bíblia Sagrada viria a perpetuar aquilo que não passou de umas "lambadas" bem dadas a quem as estava a pedir. O Dador - Jesus Cristo - deu-lhes a dimensão que elas não tiveram.
Um homem não é de ferro!... E Jesus Cristo era um homem.
E ao longo da história dos povos sempre houve quem as "estivesse a pedir". Havendo receptor, o círculo tem de ser fechado: inevitavelmente, um dia, contra todas as leis e previsões, aparecerá o dador. E o nome, a estatura, as habilitações académicas, a cor do sangue e a aura pouco ou nada poderão condicionar o desfecho.
Um homem de carne e osso, não é de ferro. O senhor de La Palisse diria isto muito melhor que eu.
Jesus Cristo, terrenamente, fez o que lhe ocorreu.
E Scolari? Fez ele o que devia? Poderia ter não feito?
Para mim, Scolari terá sempre o benefício da dúvida: quem confunde matraquilhos com pingolim e Banco com Caixa, é expectável que se confunda com um Dragutinovic...
Deixou Portugal mal visto, dizem os moralistas...
Há muito boa gente que deixou - e deixa todos os dias - este país em muito mau estado. Alguns nem passam de uns bananas moles e invertebrados...
Scolari pouco tem de banana e muito menos de invertebrado. E não é de ferro.
E vamos lá:
O Dragutinovic pôs-se a jeito... O Scolari, dava-lhe o quê? Um Magalhães? Uma Nova Oportunidade?
Escolheu bem... Eu também ia por aí!
O homem tem fé mas não é santo!
Relatório de Piquete - I
Assim que cheguei ao ól (hall é outra coisa) de entrada, o funcionário menos subalterno, Sr, Xico Canseira disse-me com aquele ar de algodão doce que só ele consegue fazer:
- Não tenho nada pendurado!
Eu já ia para ali sem muita coisa, até vontade, mas fiquei, perante aquela tirada, sem outra coisa: palavras!
Passado o impacto...acreditei!
- Se ele o diz é porque é verdade... Mesmo assim, com o incómodo, ainda levei a mão ao fecho éclair para confirmar se eu estava na mesma condição...
Não, ainda não... 24 horas depois, logo se veria!
Depois do Xico Canseira sair da situação de funcionário, mais ou menos subalterno, e regressar à situação de pessoa normal, fiz eu o percurso inverso... e deixei de ser normal.
Eu e a Zabel.
Daquilo que observei nestas 24 horas, neste peculiar espaço, e por me cumprir informar, passo a contar tudo sem nada esconder.
Assim:
1. INSTALAÇÕES
a) Constatei com particular alegria e agrado que o vidro panorâmico e fosco que decora a parede exterior do nosso edifício - e aquele que serve a montra deste serviço - permanece partido e com um buraco que, muito embora não tenha a fama e publicidade do congénere do ozono, é um buraco...
Tal constatação só me pode trazer alegria porque vejo a preocupação de ser conservada a história do edifício. Não sei há quantos anos ali permanece aquele buraco no vidro mas a avaliar pelo fosco que apresenta não me admiraria que fizesse já parte do património cultural da cidade sendo impensável suprir, com uma merdice de um vidro novo, a história de um buraco. Foram gerações de templários, chefes e subalternos que deleitados o miraram com admiração e orgulho.
Poderá o buraco ter defeitos, não ser bonito, não ter pedigree... mas tem impresso nas arestas a garra e o génio de quem o partiu e não o mandou substituir. Há toda uma história na origem daquele vazio. E isso é bonito!
E nisto de buracos cada um faz os que quer... (mas depois não venham com ADN's e paternidades...)
b) Foi com redobrada emoção, e não conseguindo evitar um lágrima mais afoita, que reparei que o pó e a sujidade que protege os envidraçados das instalações, mantém a traça original. Muito embora o aspecto possa impelir o observador descuidado a tentar desentranhar a camada de pó, tal não deveria ocorrer.
E não ocorreu, até porque os gatafunhos e escritos cuidadosamente impressos no pó, pelos dedos criativos de todos quantos por ali foram passando, devem ser preservados. Vejam o que se passou em Foz Côa...
Também isto é arte... e a bonecada desenhada no pó dos vidros confere-lhes uma ambiência de vitral. É um estilo rocócó. A textura não deixa dúvidas, mesmo a leigos.
A Zabel Espanhola optou por um "Angola, 1966 - 3º Batalhão".
Ficou bonito. Fica bonito como está, porra!
(Continua)