sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A doutrina do bode expiatório







"Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão." - Edmund Way Teale







A doutrina expiatória apenas tem cabimento na justiça divina: somente ela concebe a ideia de um substituto ou bode expiatório para crimes humanos.

Muitas civilizações e culturas acolheram a ideia de que uma forma de apaziguar a ira dos deuses, passava pelo sacrifício de humanos ou animais. De Maias a Cristãos, há um rasto de sangue de vítimas inocentes sacrificadas a bem da desresponsabilização colectiva.
E isto a propósito - e salvaguardadas as devidas proporções - da figura de Oliveira e Costa e de todo o dourado embrulho que oculta a recente estória do BPN.

O bode expiatório está, obviamente, escolhido. Resta saber se com ele se apazigua a ira dos deuses e a vergonha dos demais, alguns tão impunemente imorais.

O que Miguel Cadille expôs, a propósito do caso BPN, na comissão Parlamentar de inquérito é de uma gravidade que roça a ordinarice e o descaramento.
Ao que eles chegam... A quem confiámos a defesa dos valores, dos princípios, da ética, do leme, do rumo e da governação?!...

Não me entra com facilidade a ideia de que apenas Oliveira e Costa - o mau da fita - foi responsável pela constituição de 94 off-shores que, liminarmente, serviam para camuflar trafulhices sobre falcatruas.

O bode expiatório poderá apaziguar qualquer deus, mesmo um menor, mas é impensável que a Justiça dos homens possa aceitá-lo em sacrifício para desresponsabilização de, certamente, muita gente que meteu, descarada e ilegitimamente, dinheiro ao bolso e que brincou com as poupanças de quem vive do salário e que as dava à guarda do BPN, na presunção que lidava com gente séria e de bem.

A César o que é de César. Mas o César visível, assim tudo o faz crer, é um postal ilustrado de um polvo enorme e poderoso com tentáculos na elite política e governativa.
O Tempo o dirá, se coragem houver para isso.
Haja vergonha!...
Texto:©José Tereso / Imagem: William H. Hunt

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