quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Aonde pára a inovação? É que é muita!...









Já não consigo ver televisão ou ler jornais sem esboçar um sorriso.
A situação começa a preocupar-me porque, avançando eu na idade, temo que aqueles que comigo convivem julguem que padeço de alguma patologia que me leva a rir sem motivo aparente ou a rir-me daquilo que costuma enegrecer o semblante de muitos.
Tardei a aperceber-me disso mas, a dada altura, estando eu a ver o Gato Fedorento com cansado interesse, mudei de canal para ver o bloco noticioso da SIC Notícias.
E, quando dei por mim, já estava de "tacha arreganhada" a rir-me com dois vultos do ilustre e multifacetado panorama político deste pobre país.
É que o despique verborreico das duas criaturas era, de longe, mais lúdico e mordaz que o discurso chato do Diogo Quintela.

Declaro, antes do mais, que não sou contra o PSD, nem contra o PS, nem contra o PCP, CDS e Bloco de Esquerda. Mais declaro que também não sou a favor de nenhum deles. E termino declarando que reconhecendo a necessidade da Política, reconheço a inutilidade da totalidade da classe política que se serve da Política no meu país. Aos restantes, dou-lhes o benefício crítico da dúvida...

A política, em Portugal, protagonizada pelos profissionais da política portugueses, tornou-se um um filão anedótico que, pelo primarismo e basismo dos intérpretes, tornou o humor uma coisa banal e de fácil apreensão.
Até um leigo como eu - que sentia, muitas vezes, dificuldade em perceber algumas anedotas mais trabalhadas - "entra" com facilidade no fio condutor dos discursos e antecipa-lhes o fim com a sonoridade de generosas e compensadoras gargalhadas.
Por onde têm andado estes humoristas?!... E que lufada de ar fresco trouxeram ao triste e contido quotidiano de um vulgar cidadão como eu.
E pensar eu que, até há bem poucos anos, poucos portugueses tinham a mestria de nos fazer rir...
Ainda mesmo agora, por exemplo, tive de me largar a rir...

Porquê?!... Ponham-se nisto:
O Dr. António Borges, um economista de eleição, um vice-presidente de um Partido de eleição - um dia, confirmar-se-á esta minha profecia - , um leal seguidor das musculadas doutrinas de eleição da Dra. Manuela Ferreira Leite, visionário como poucos e congressista como muitos, disse um dia, algures no verão de 2008, que não acreditava na crise. E continuou, dizendo que o "subprime" é "uma das melhores inovações dos últimos anos", que a "crise" era apenas uma "correcção", um estado natural que sequenciava alguns excessos. Acrescentava ainda que o cenário de recessão era impensável, podendo apenas acontecer algum abrandamento económico, uma certa desaceleração, não mais que isso. A Europa "está muito segura e melhor armada para fazer frente aos problemas"
Terminou, depois de tudo ter dito, dizendo: "...é difícil prever como as coisas vão acabar".

Eu ouvi, eu li tudo isto. Tudo isto foi dito por este Doutor Economista e Político, num jantar-debate na Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial. O que ele brilhou... Quanta inovação. Que visão...

Passaram-se os meses. Outros jantares terão passado, provavelmente.

E eis que hoje, dia 21 de Janeiro, o mesmo Doutor Economista e Político de eleição - a excepção só poderá confirmar a regra - diz o seguinte:
«A credibilidade do Governo para traçar um cenário, preparar um orçamento, dar algumas balizas aos portugueses para que possam melhor reagir à crise está completamente em estilhaços», declarou António Borges, na sede do PSD.
«O Governo vem agora admitir que qualquer previsão e qualquer orçamento pode ter de ser mudado a qualquer instante. Aqui está como se amplifica a crise, os piores efeitos da crise, como se aumenta a incerteza, como se mina a confiança de todos. Tudo porque, desde o início, o engenheiro José Sócrates nunca quis optar pela prudência, poupando aos portugueses surpresas cada vez mais desagradáveis», acrescentou.
E mais:
O vice-presidente do PSD, António Borges, acusou o Governo de falta de prudência nas previsões económicas, considerando que a sua atitude «amplifica a crise» e deixou a sua credibilidade «completamente em estilhaços».

Resta-me acrescentar que também eu, reconhecendo a dificuldade de prever como as coisas vão acabar, serei Doutor, Economista e Político num dia destes porque por detrás do "subprime", e dessa força inovadora, há um mundo por descobrir e desabrochar...
E agora... deixem-me implodir em gargalhadas porque já não me contenho mais.
Texto:©José Tereso/Fonte: portugaldiário/Imagem: bankruptcylitigationblog

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