segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Filhos do deserto






Preocupado com a desertificação do Interior do País, o Presidente da República, Prof. Cavaco Silva, em Novembro de 2007, visitou, durante dois dias, os concelhos da Guarda e Gouveia.

Finda a visita, levantou aquelas melindrosas questões que correram "mundo": "Porque é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?"

Para evitar o óbvio e o pavio, apressou-se a concluir com um: "Eu não acredito que tenha desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao Mundo".

Há dias em que não se pode visitar o Interior do País: chegamos com uma preocupação, depressa arranjamos mais duas e ainda arranjamos crença para dar como certo o entusiasmo luso, no mínimo para dar novas vidas ao Mundo.

Sinceramente, nem sei que lhe diga, Sr. Presidente.

No que a mim concerne, também lhe garanto que se vivesse na Guarda ou em Gouveia, com os frios que para aí vão, de uma coisa eu não me lembrava: fazer filhos.
Eu queria era lenha e coisas quentes. A mulher - com os pés sempre frios!... - lá longe.
Ir à Guarda em Novembro... escolham outro!

Se nalguma coisa o país começa a ter défice é, precisamente, em portugueses com entusiasmo. E não só para fazer filhos, mas sobretudo para aturar os filhos dos outros.
Não sei se na Margem Sul houve também quebras de entusiasmo. Penso que não. Contudo da desertificação também não escaparam...

E veio-me este atabalhoado texto à ideia porque, noticiava a Visão, que a Canon, no Japão, decidiu deixar, duas vezes por semana, os funcionários saírem mais cedo - 17H30 - levando, contudo, trabalhos para casa: fazer filhos.
A maior associação japonesa de empresas, com 1300 companhias internacionais associadas, a Keidanren, emitiu um parecer do mesmo teor, fazendo apelo ao seu cumprimento por parte das empresas associadas.
Também o Japão se debate com uma "recessão" adicional: a taxa de natalidade.

É só seguir o exemplo japonês, Sr. Presidente da República, porque até temos afinidades: já andamos de olhos em bico há uma porrada de tempo!

Tenho reparado que, recentemente, as empresas portuguesas têm mandado para casa muita gente. Acho que não será propriamente com o intuito de reparar índices de natalidade...
Mas, uma coisa me ocorre: no desemprego e com a televisão penhorada ou vendida, pouco restará aos portugueses, sem entusiasmo, senão fazer filhos.
Sempre matam o tempo, enquanto não lhes ocorre outra coisa...
Texto:©José Tereso / Fonte: visão.pt/ Imagem:www.africanidade.com

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