quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Os Homens também podem ser anjos









A ler a imprensa desportiva cruzei-me com uma crónica que fazia uma retrospectiva da "era" Scolari.
No meio de alguns elogios, de algumas questões sobre opções tácticas e de considerandos sobre a "boa onda" que varreu Portugal e os portugueses, lá apareceu a história do pretenso "soco" no Dragutinovic.

Confesso-me admirador do Sr. Scolari.
Fiquei-lhe grato pelo que, através da sua "arte", fez pelo meu país. Há muitos anos que eu não via muita coisa que o Sr. Scolari tornou visível: o querer, a crença, o orgulho de ser português. Não me lembro de ninguém - correndo o risco de cometer uma injustiça - conseguir pôr um país a decorar e cantar o Hino a plenos pulmões e sem receios. A dado momento, parecia que os portugueses tinham descoberto que os "heróis do mar, nobre povo, nação valente" tinha tudo a ver com eles e que não era menor sê-lo: herói, nobre, valente e imortal.

Não percebo muito de futebol. Não tenho qualificação técnica para avaliar tecnicamente o trabalho do Sr. Scolari. Não tenho conhecimentos que me permitam escalpelizar as suas opções e critérios, dentro e fora do balneário.
Haverá, porventura, quem tenha conhecimentos, experiência e percurso que o anime a escalpelizar a lusa carreira do Sr. Scolari.
Deixou o Sr. Scolari alguns amargos de boca a umas quantas "damas ofendidas", a alguns "intocáveis", aos "habituais" sem concurso nem "casting". Aos "imprescindíveis", por uso e costume.
Sinceramente, em momento algum, senti a falta de todos estes. Também, sinceramente, sinto que já era tempo de olharem para o seu umbigo e de terem algum respeito pelas opções e pela avaliação que os outros, num todo e num contexto, fazem deles.

Mas voltando à "mancha": o murro no jogador Dragutinovic.

Se outro exemplo de "mancha" não encontrasse no universo dos "respeitáveis" e dos que estão proibidos de errar, utilizava aqui - respeitosamente - a recorrente imagem de Jesus Cristo que, esquecendo tudo quanto se escreveu em manuais de etiqueta e que a linhagem aconselhava, distribuiu uns bons "bufardos" nuns quinquilheiros que resolveram transformar o Templo numa feira de "Lacostes" e "DVD's" de legendagem duvidosa.
A Bíblia Sagrada viria a perpetuar aquilo que não passou de umas "lambadas" bem dadas a quem as estava a pedir. O Dador - Jesus Cristo - deu-lhes a dimensão que elas não tiveram.
Um homem não é de ferro!... E Jesus Cristo era um homem.

E ao longo da história dos povos sempre houve quem as "estivesse a pedir". Havendo receptor, o círculo tem de ser fechado: inevitavelmente, um dia, contra todas as leis e previsões, aparecerá o dador. E o nome, a estatura, as habilitações académicas, a cor do sangue e a aura pouco ou nada poderão condicionar o desfecho.
Um homem de carne e osso, não é de ferro. O senhor de La Palisse diria isto muito melhor que eu.
Jesus Cristo, terrenamente, fez o que lhe ocorreu.
E Scolari? Fez ele o que devia? Poderia ter não feito?
Para mim, Scolari terá sempre o benefício da dúvida: quem confunde matraquilhos com pingolim e Banco com Caixa, é expectável que se confunda com um Dragutinovic...
Deixou Portugal mal visto, dizem os moralistas...
Há muito boa gente que deixou - e deixa todos os dias - este país em muito mau estado. Alguns nem passam de uns bananas moles e invertebrados...
Scolari pouco tem de banana e muito menos de invertebrado. E não é de ferro.
E vamos lá:
O Dragutinovic pôs-se a jeito... O Scolari, dava-lhe o quê? Um Magalhães? Uma Nova Oportunidade?
Escolheu bem... Eu também ia por aí!
O homem tem fé mas não é santo!
Texto:©José Tereso / Imagem:globoesporte.globo.com

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