segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Das quedas e dos trambolhões








Alguém nos anda a enganar... Estatisticamente falando, obviamente.


Porque em queda estivemos... e estamos, de facto. Estatisticamente, no crime... e no resto. Um país de paisagens e cifras, polvilhado, aqui e ali, de promissores sem-abrigo... de computador a tiracolo.

Somos um país de passado.
Outros o são, mas com muito menos substância arranjaram ânimo para, sem que o esquecessem nunca, abraçassem o futuro com o ânimo e a crença que nos vai faltando no presente, daí que se vão projectando num futuro que se nos escapa. Nestes percursos, surgiram os homens... e isso faz agora, e foi fazendo, toda a diferença.
Vem isto a propósito de mais uma caricatura que a onda de recente criminalidade violenta, que assola o país - de norte a sul -, fez emergir.


Este pobre e massacrado país foi varrido por uma vaga de assaltos e mortes violentas que nem as saudosistas - e eles dizem que são actualizadas - estatísticas do MAI conseguem camuflar...
Vem o MAI, perante esta avalanche, sossegar os portugueses esgrimindo umas cifras que apontam para o decréscimo do crime violento.
Esta "arquitectura paisagística" surge numa altura em que o português é confrontado diariamente, e, nalguns casos, várias vezes no mesmo dia, com uma paisagem que nada tem a ver com aquele cenário bucólico. Este esgrimir de números, surge no mesmo dia em que a zona norte do país sofre na pele os efeitos, genéricos, dos 83,8% maquilhados. Esta azáfama de números surge também na véspera de, num dos palcos onde o crime violento foi levado à cena, se realizar mais uma cimeira europeia, de uma Europa que, de nós, tem apenas ternas recordações do cheiro a sardinha assada. Esta exibição numérica surge também no dia em que o ministro da tutela vai ao Parlamento fazer a amostragem de um país que está "controlado policialmente" e que o passado recente (6 meses) nos aponta uma "queda" estatística nos índices de criminalidade.


Será verdade a queda... para quê duvidar dos números se os portugueses, mesmo os que com dificuldade contam pelos dedos, se apercebem, todos os dias, que estamos em queda...
A estatística peca por inoportuna porque o dia a dia se encarrega de estragar estas deambulações estatísticas. Não ficaria por aqui a caricatura...

A caricatura terminaria com o ridículo de ser anunciado o que não ocorreu, de se elogiar o que não acontece há muito tempo: nem a polícia prendeu qualquer dos assaltantes, nem a coordenação entre polícias funcionou como seria desejável...
As "guerrilhas" de protagonismo inter-policiais há muito travam o verdadeiro crescimento e maturidade no combate ao crime...
As "guerrinhas" de protagonismo, e a sofreguidão com que alguns - recém chegados - querem dizimar e fazer esquecer percursos de carreira sustentados no conhecimento, na experiência, no anonimato e no bom senso, estão a produzir os seus nefastos efeitos e a tornarem-se visíveis à avaliação do cidadão comum.
Dentro das "capelas" já isso se notava e se previa há muito...

E aí, bem pode o MAI reforçar as logísticas no intuito de um mais eficaz combate ao crime... Porque o crime não só se combate: previne-se com políticas adequadas, com polícias adequados e acompanhados, justamente remunerados e sobretudo com pessoas para os quais o único e verdadeiro alvo a abater é o crime; não a procura de louros corporativistas e individuais como se combater o crime fosse só enxotá-lo para o vizinho do lado e receber louros e mordomias enquanto o pau vai e não vem.


Alguém enganou o Sr. Ministro. Alguém nos anda a enganar... Estatisticamente falando, obviamente. Porque em queda estivemos... E estamos, de facto.
Estatisticamente no crime... E no resto.
Um país de paisagens e cifras, polvilhado, aqui e ali, de promissores sem-abrigo... de computador a tiracolo.

Texto:©José Tereso / Imagem:baixaki.ig.com.br

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