sábado, 20 de dezembro de 2008

A crise da Verdade e da Coerência






Há crise.
A crise instalou-se e a fragilidade das verdades absolutas veio à tona.
Os bancos, afinal, não eram aquilo que se vendia.

O linguarejar fácil e fluente dos gurus da banca e do mundo financeiro travestizou-se e passámos a ver os mesmos senhores a fazerem acrobacias de argumentos, de "ses" e "comos" para conterem a onda de choque e a corrida massiva às caixas, para levantamento das parcas economias dos que acreditaram que o seu dinheiro - tal como as armas de antigamente - estava "em boas mãos".
Alguns gestores, empresários e administradores de pacotilha, viram-se finalmente despidos na praça pública, varridos por um tsunami financeiro e trapalhão cujas dimensões estão longe das previsões mais apuradas e sustentadas. E agora é vê-los, essa casta de artistas, a escorrerem gel dos cabelos e a puxarem lustro ao sapato, com a calça da perna que os sustenta em pé.

Os senhores dos "Compromissos qualquer coisinha", das soluções milagrosas e dos dinâmicos conceitos empresariais anti-Estado, andam agora de mão estendida a pedir ao mesmo Estado que lhes branqueie, com dinheiro dos contribuintes, as derrapagens e o asneiredo espalhafatoso em que vivem há muito tempo. Mais uma vez se provou que o tecido empresarial português é dependente do colo do Estado e sobrevive graças a trabalho mal remunerado e à cíclica injecção de liquidez que sai, indirectamente, dos bolsos dos explorados e mal pagos.

Que tivessem decoro e vergonha, era o mínimo aconselhável.

Mas não!
Continuam a esgrimir, em acrobacias de linguística, argumentos e justificações que lhes dêem uma segunda demão de competência e rigor, já que a primeira estava muito aguada. Alguns, mais atrevidos, conseguem mesmo auto-elogiar-se, em livro e publicamente, enquanto o edifício que construíram se desmorona sem apelo nem agravo.
Em muitos momentos, esfrego os olhos para me certificar que não estou a ver e a ouvir, de novo, um tristemente célebre Ministro do Interior do Iraque.
"Firmes e hirtos", como diria o Alexandrino.

Mais eis que vem o Governador do Banco de Portugal, Sr. Vítor Constâncio, dizer para só acreditarmos nele...
Pois, pois, pois... Estou a ver! Mas não sou só eu a ver...

O Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, também deu uma achega ao que eu há muito desconfiava: "nem tenho confiança em quem governa, como é que posso fazer fé nas medidas tomadas".
Pois... Também estou nessa.

Quanto ao Sr. Vítor Constâncio, sempre digo que gostava de ter boas razões para só acreditar nele. Mas, infelizmente, tenho boas razões para fazer o contrário.A última razão deu-ma a falência do Hypo Real Estate, autorizado a trabalhar em Portugal pelo ilustre reclamante da credibilidade.

Estou a ver!... Mas vou ver mais!.

Texto:©J.Tereso
Imagem: sxc.hu

Sem comentários: