No ser e no parecer...

... porque as pessoas de bem, permanecem.
E os Conselheiros de Estado, só podem. Só devem.
No ser e no parecer...

Nas recentes prestações - e desesperos - do Dr. Dias Loureiro na televisão, saltam coisas que, pela falta de memória e pelo atabalhoamento quase infantil, chegam a chocar quem, como eu, assistiu; a questionar se, é mesmo verdade, que aquela mesma pessoa é actualmente Conselheiro de Estado.

No meio de um mar de desconhecimentos, de santa ingenuidade, de narrações arquitectadas no mais imberbe guião, fica-nos a imagem de um homem esmagado pelos acontecimentos e pelo rumo inesperado que tomaram, atolado num mar de "ses" e de "mas" que só podem fazer arrebitar o sobrolho a quem os ouve.

Ao garantir que nada sabia mas que tinha ido ao Banco de Portugal suscitar umas dúvidas quanto a uns "bruás" que lhe tinham chegado, o Dr. Dias Loureiro entrou no "corredor da morte", salvo as devidas proporções.

É que parece que está o Dr. Dias Loureiro esquecido que, em declarações à agência Lusa - a 10 de Novembro do corrente - dizia o seguinte: "Não sei de nada sobre a nacionalização do Banco Português de Negócios, nem nunca tive conhecimento de problemas relacionados com o BPN".

Se nunca teve conhecimento de problemas, para quê ir ao Banco de Portugal suscitá-los? Se nunca teve conhecimento de problemas que necessidade tem agora de recorrer a conhecidos - Dr. Cavaco Silva - para garantir que nunca teve conhecimento? Se nunca teve conhecimento de problemas, se está alheio a eles, porque não demitir-se de Conselheiro de Estado?

A imunidade aqui, está a fazer estragos, parece-me a mim.

Os amigos não devem ser utilizados nisto, por respeito. O Dr. Cavaco Silva não agradeceu ao Dr. Dias Loureiro a visita, certamente.
E que outra coisa se esperaria - ou ele, Dr. Dias Loureiro - que o Dr. Cavaco Silva dissesse, se não o que disse!...

Só podia, só devia dizer o que disse.
Com amigos destes...

Eu não sei o que, para o Dr. Dias Loureiro, são "bruás"... Mas quer-me parecer que ele sabe. E que gostaria que nunca tivessem passado de "bruás".

Dizia Rui Moreira, no Público de ontem, que em Portugal, o cargo de ex-ministro, seja dos governos do Dr. Cavaco Silva seja dos outros, é o mais bem recompensado.
E disso nenhum de nós tem dúvidas...
Quer-me bem parecer, no meu fraco e precário entendimento destas coisas da política e dos negócios pós-política - ou nem tanto - , que o meu álbum de fotografias que até agora associava a pessoa do Dr. Dias Loureiro ao bloqueio da Ponte 25 de Abril, passará - se outros dados não surgirem a creditá-lo - a associá-lo também a bloqueios de memória, a desculpas assentes em premissas enviesadas e, em última análise, a uma coisa muito feia e grosseira a que deveria ter permanecido imune.
Porque as pessoas de bem, permanecem.
E os Conselheiros de Estado, só podem. Só devem.
No ser e no parecer...

©J.Tereso