terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Desburrifiquem-me, pela vossa santa saúde!






Eu sei que sou burro!

Houve uma altura na minha vida em que pensei que as coisas se iam alterar... Puro engano!

Éramos pobres - engraçado, esta parte nunca se alterou - lá em casa. Sou do tempo em que, aos sábados, ia ao café ver a televisão com os meus pais. E era um fartote de variedades com o António Calvário, a Madalena Iglésias e para terminar - qual cereja no bolo - vinha o "Bonanza".
Isso é que eram sábados. A gasosa com o berlinde, os tremoços e o "Bonanza"...
A gente até se esquecia do resto: das sandes de azeitona, das iscas, dos carapaus fritos e das tachadas de arroz de tomate, das sandes de azeitona, depois as iscas e outra vez os carapaus fritos com o tal arroz de tomate, intervalados, aqui e ali, com umas favas com sabor a chouriço e, em dias de grande euforia e festa, umas batatas fritas com bife e ovo.

E assim foram passando os anos, sempre na esperança de ficar menos burro. Menos pobre, logo... menos burro!

Mas não... Comecei a ler jornais e ver televisão todos os dias e em casa, passei a comer menos tremoços e a beber menos gasosa, o menu alargou-se a outras especiarias e, quando dei por mim, já falava com gente mais bem vestida, mais cheirosa mais cheia de "nove horas".

Ganhei com isso?!...
Nada!... Comecei a regredir, a burrificar-me. Daí que hoje, quando leio jornais e ouço os senhores da televisão, permaneço petrificadamente asno até à quinta dimensão...

Faço parte de um vasto lote de burros à beira mar plantados, definitivamente.
E porquê?

Dou sou só um pequenino exemplo, reportando-o ao noticiário televisivo das 20 horas:
A taxa de referência do Banco Central Europeu desceu ontem. Lembro-me que quando subiu - o que acontece já há muito tempo - vieram os senhores muito bem postos dizer que as prestações dos empréstimos à habitação tinham de subir porque acompanhavam a tendência do BCE.
Comi e calei. Pareceu-me razoável a explicação, na altura.

Ontem voltei a ser asno. As taxas desceram mas a prestação da casa não acompanhou a tendência, como dizia o bem cheiroso senhor. Dizem que demora mais tempo...
Sou ou não sou burro?!...

Os combustíveis subiram e logo veio um senhor engomado e também bem cheiroso a dizer que tudo se devia à subida do barril de petróleo.
Comi, calei e achei, na altura, razoável a explicação...
O barril desceu. Os combustíveis continuam a subir...

Mas quem é que me manda, a mim, ouvir senhores engomados e bem cheirosos?!...
Já vi que vou ficar burro toda a santa vida! Eternamente a aguardar que aquilo que é imediato para me tramar, deixa de o ser, e arrasta-se no tempo, quando há uma réstea de esperança de eu dar uma folga à vida.
Vou continuar a trabalhar e a zurrar que nem um pobre, a olhar o mar e a deixar que o Sol me aqueça os costados enquanto o pau não cai.

A menos que um senhor desses, venha ao areal a banhos e, sem ofender a minha residual e precária inteligência, consiga seriamente explicar-me qual é o meu papel nisto tudo, e se acham que eu cá estou a mais!...
Fico à espera.
©J.Tereso
imagem:nqc71.blogspot.com

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