domingo, 14 de dezembro de 2008

Do milho e de outras transgenias






A herdade da Lameira (Silves), em 18 de Agosto, foi alvo de um "acto simbólico" – como lhe quiseram chamar – promovido por uma associação ambientalista, denominada Verde Eufémia.
Pretendiam com o seu “acto simbólico” chamar a atenção para os reais perigos dos OGM (Organismos Geneticamente Modificados).

Daí que um grupelho de moçoilos e moçoilas com preocupações ambientalistas – entre muitas outras – de cigarro numa mão e telemóvel na outra, entraram na referida herdade e “num acto simbólico mas de acção directa” – foram os termos empregues por um dos mandatários do agrupamento – invadiram-na e devassaram-na perante o olhar incrédulo do proprietário e a passividade incompreensível da autoridade local presente (GNR).

Não conheço o agrupamento, a filosofia, os propósitos deste ramo dos Ecotópicos. Apenas os actos…
Vi-os na televisão, vi as (in)justificações de um seu porta-voz e, sinceramente, fiquei abismado: como é possível a alguém fazer e dizer tanta asneira em tão pouco tempo!

Que o problema dos transgénicos tem de ser equacionado e correctamente dimensionado nos prós e contras – e parece que os há, mesmo na comunidade científica –, de uma maneira frontal e que não fique limitado na redoma dos “interesses”, é um facto e uma necessidade. Agora a mensagem não pode ser a que o agrupamento Verde Eufémia escolheu para lançar a discussão do problema.

Assisti não a um “acto simbólico” mas apenas a uma situação tipificada na lei como invasão de propriedade e danos.
Assisti ainda a um desfilar folclórico, de cariz arruaceiro, que em nada abona a causa ambientalista. Se a chamada de atenção para as questões ambientais até colhe a simpatia e a atenção daqueles que nunca se questionaram com o problema, desta forma criou-se o rótulo que poderá, aos menos atentos, levar a fazer colagens de vandalismo e arruaça barata aos que verdadeiramente, de forma convicta e consciente, apelam à equação do problema dos transgénicos, em particular, e de uma melhor qualidade de vida, genericamente.

Lidar com o milho - com os outros e com a vida - com práticas fundamentalistas, não vai seguramente propiciar a serenidade que terá que estar presente sempre.

Tenho a certeza que os ecologistas e os ambientalistas não vão agradecer a este agrupamento a sua mensagem porque descaracterizou e caricaturou, apalhaçadamente, a imagem de seriedade por que têm lutado em prol de um desígnio que nos devia fazer reflectir.
Também a GNR não se poderá orgulhar do papel a que se prestou naquele brilhante desempenho dos moçoilos e das moçoilas. Assistir impávida e serenamente, escoltar os vândalos e aconselhar, a espaços, os envolvidos fisicamente a abraçarem-se e perdoarem-se uns aos outros, não me parece o desempenho aceitável e exigível.

Fica-me a sensação que nem só o milho era transgénico… Havia mais coisas.
E no meio delas, o milho é o mal menor.

Texto: ©J.Tereso
Imagem: greenpeace.blogtv.uol.com.br

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