sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

My name is SAE... A SAE!

(in "Conversas com lobos" Out.2007)





Não sei se o Ian Fleming irá, a breve trecho, reformular o seu James Bond - já um tanto coçado pelo tempo e pelos Martinis - e aproveitar uma qualquer das personagens encapuzadas - vidé fotografia anexa - que aparentemente controlam uma dona de casa que está a escolher uns tomates para o almoço ou um vendedor a ajeitar a boca do crocodilo "Láfoste"

Percebo a necessidade da criação de um corpo que preenchesse a lacuna que a ASAE se propôs preencher.
Percebo a imperiosidade de pôr termo a toda uma série de abusos que enclausuravam o consumidor, deixando-o à irremediável sorte de comprar "gato por lebre".
Percebo a necessidade de serem reguladas e fiscalizadas as actividades de "outsiders" que criam desigualdades, impunidades e concorrência desleal no tecido comercial.
Percebo que, sobretudo, os estabelecimentos da "noite" necessitassem de intervenção da acção fiscalizadora da ASAE - no estrito âmbito da sua área de intervenção - devidamente enquadradas com outras forças de vocação e índole diversa, numa abrangência efectiva e cabal.
Percebo também a "angústia" dos patrões da noite ao verem os seus "quartéis-generais" caírem na alçada fiscalizadora de todos os organismos que, por inércia ou mesmo, nalguns casos, por tácita cumplicidade, permitiram o regabofe que pulula a "noite".
Os "senhores da noite" há muito de precisam deste aperto... e todos seriam poucos para que ele fosse efectivo.
Até para o James Bond havia lugar... agora, numa altura, em que a Polícia - por comodidade ou inércia, por economicismo e por uma visível quebra de vocação - abandonou o controle "infiltrado" de muitos antros que funcionam como verdadeiro laboratórios de criminalidade e se refugia em gabinetes e mesas de mistura, com headphones nos ouvidos, "investigando".

Percebo a urgência da ASAE e aplaudo os seus objectivos, não tanto as nuances no modo como os querem atingir...
Não percebo, contudo, que a ASAE necessite de se encapuzar para exercer o seu mister.
Sempre a Polícia - PJ, PSP, GNR e SEF - fiscalizou - com cadência deficitária - estes locais sem a necessidade de esconder o que quer que fosse, muito menos a cara.
A determinação bastava... O capuz não acrescentava nada.
A menos que nesta ânsia securitária - decorrente da ineficácia do combate ao crime - queiramos aceitar o narcisismo de todos quantos pensam que o Rambo existiu mesmo... e que quanto mais Rambo, mais coragem...
O anonimato encapuzado não convence... revela, faz perceber coisas que no exercício da autoridade não deveriam ter lugar...
A coragem, a determinação e a justeza das intervenções devem ter cara... o anonimato só as pode fragilizar.
A menos que valores supremos o aconselhem...
A prevenção, como opção estratégica continuada e reutilizada, não se confina no anonimato... Há outras formas de a tornar efectiva, devendo de ser sustentada e complementada noutras políticas de actuação.
É que, depois, há outro aspecto - a que não me quero alongar neste texto mas que vai merecendo análise - que faz todo este aparato cair pela base: o capuz - que não sei o que pretende esconder, ainda não o percebi - não vai evitar a promiscuidade e as cumplicidades que permitem à "noite" adivinhar as visitas, as movimentações, as caras e os pecadilhos que um capuz não consegue esconder...
Haja bom senso e adequação...
Deixemos a cenografia, o guarda-roupa e o espalhafato para as manifestações etnográficas e para o verão das aldeias...

Excepção feita aos Corpos de Intervenção rápida, em situações de crise a suscitarem intervenções tácticas e cirúrgicas ou de ameaça real que colidam com, ou façam perigar, a garantia de defesa de valores reconhecidamente supremos - a liberdade e a vida -, em nenhum outro caso se justificará este folclore que poderá fazer muito bem ao ego dos figurantes mas que deixa perplexidades e interrogações perversas a bailar na cabeça do cidadão comum e, pior do que isso, ridiculariza a seriedade intrínseca dos objectivos.

É que um vendedor de Lacostes contrafeitas ou um vendedor de cd's pirata, não integra propriamente uma estrutura mafiosa, hierarquicamente disseminada ou uma organização terrorista, estruturada em células de actuação estanque. Nestes casos, de perigosidade acrescida e a suscitar-se uma resposta táctica, o capuz poderá revelar-se de utilidade, não só para salvaguarda dos utilizadores de possíveis retaliações - e, neste casos, de cenário muito provável - como para inviabilizar a identificação de caras e procedimentos, dando anonimato à equipa porque a resposta, nestes casos, tem de ser desproporcional, rápida, desinibida e sem erros de execução.

É que a admitir-se aquele cenário - máfias e terrorismo feirante, então o problema criminal é muito mais preocupante do que aquilo que o governo, com números, pretende esconder.
Por este andar - e isto, ultimamente, assalta-me os sonos - ainda ponho a hipótese de ver a ASAE - de capuz - nas montanhas do Afeganistão à procura do neto do Bin-Laden, nessa altura já mais calmo e a negociar enlatados e comida para pássaros...

O my name is Bond... James Bond, está bem entregue e tem outro perfume...

A ASAE que não se perca porque acredito que, com sobriedade e discrição, pode fazer melhor... já o vai fazendo, não havendo necessidade de promover estes exotismos e fetiches...
©J.Tereso
imagem:spectrum.weblog.com.pt

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