quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A última medalha...




Findos os Jogos Olímpicos de 2008, escrevia eu, no "Pois, pois, pois... Tou a ver", que o Presidente do Comité Olímpico de Portugal, "comandante"(?) Vicente Moura, havia arrebatado, por mérito próprio, a última medalha da representação portuguesa no certame olímpico: a medalha de lata.

A representação portuguesa, foi o que foi...

Saldou-se, pela negativa, num apagado desempenho de alguns atletas mas sobretudo pela forma pouco cuidada com que, um a um, foram comentando os próprios desaires. E aí, ouviu-se de tudo... E o de tudo, foi mau.

Saldou-se pela positiva pelas razões que todos sabemos - e aqui com o mérito a ser atribuído integralmente aos atletas empenhados - muito embora tenha ficado aquém de algumas expectativas criadas. Era natural que assim pudesse suceder, mas também não vejo, sinceramente, que, no plano meramente desportivo, se possa crucificar uma representação pela má prestação - e houve casos em que o foi - de alguns atletas. Muito menos esta zona de penumbra poderá ofuscar aqueles que, ainda assim, conseguiram os seus objectivos.

A medalha de Nelson Évora premeia o trabalho do atleta, a sua concentração, o seu equilíbrio emocional e a sua inabalável postura face a fenómenos acessórios de desestabilização criados por quem teria toda a obrigação de os conter.
Ganhar uma medalha de ouro, naquele certame e em condições de "balneário" adversas, foi um acto de coragem, determinação e fé.

Marco Fortes terá sido penalizado pela ligeireza com que comentou a sua fraca prestação. Duramente penalizado, pela visibilidade imposta.

Mas que dizer da atleta que assume não ter "talhe" para aqueles eventos? Só deu por isso lá? Mas não é atleta de alta competição?!...
E isto? E aquilo?
E os árbitros, esses malandros que estavam fisgados nos portugueses?
E do pretenso "comandante"?
Um dia quer e no outro já não quer. Um dia é tudo mau e no outro é tudo bom.
E, tal como os pretensos "comandantes", não se coibiu de expôr o Marco Fortes à condição de bode expiatório dos erros de "comandos" tibuteantes e de atletas imaturos e, esses sim, a requerem a passagem à "caminha" ou a viajarem a expensas próprias...
É que aquele "evento" não era propriamente um convívio, por muito pedagógicos que os cruzamentos de cultura de outras coisas, possam ser.
Tratava-se de competir, no limite.
E muitos o fizeram... convivendo, também.

Enfim... houve de tudo. E, como disse, o de tudo, foi mesmo mau...

Tão mau, que o "comandante" Vicente Moura, aquele que deveria manter alguma serenidade até ao apito final, entrou em pânico e, como Pilatos: abarbatou-se ao lavatório e toca de lavar as mãos e a consciência, para depois, chutar para canto e para as bancadas.
Tudo isto na véspera da participação de um atleta que, alheando-se destes fait-divers, fez aquilo que para ali se determinara ir fazer. Tão simples quanto isso.
E se todos assim o tivessem feito, incluindo o tal comandante, talvez que não chegássemos à fase das caricaturas...

Daí a tal medalha de lata...
Porque é preciso tê-la para se ter afirmado, em 18 de Maio de 2008, que Portugal iria trazer 4 ou 5 medalhas, distribuídas por 11 atletas medalháveis e vir afirmar, findo o certame, que os objectivos traçados haviam sido cumpridos.
Porque só com muita lata, num dia se está demissionário, com recurso a argumentação que deixava a representação portuguesa em muito mau estado, não havendo outra saída senão a demissão e, no dia seguinte, após o triplo salto de um dos "medalháveis", se afirma estarem cumpridos os objectivos, que esta fora a melhor representação portuguesa e que, por tal, se encontrava disponível para continuar à frente dos destinos do Comité Olímpico.

O que mudou então, um salto a três tempos?
Que pânico havia antes? E que bonança houve depois?
O carácter está refém do centímetro?

É por isso que, hoje mesmo, a Comissão de Atletas Olímpicos demarcou-se da maioria das federações nacionais e não apoia a recandidatura de Vicente Moura ao cargo de Presidente do Comité Olímpico de Portugal.
« O presidente do COP não se tem portado à altura dos atletas. Fomos abandonados quando mais precisávamos de apoio. Gostaríamos que o movimento associativo ouvisse os atletas e encontrasse alternativas. Gostávamos de uma mudança », disse Nuno Fernandes, presidente da Comissão.

Mais:
Fernando Mota, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, criticou há duas semanas "o facilitismo, os comportamentos, atitudes e declarações" de Moura, "antes, durante e depois dos Jogos Olímpicos", comparando a liderança do presidente do COP com um "cata-vento".


Mas também Marcos Fortes dizia, após ter sido "despejado":
- « uma vez durante os nove dias » que esteve em Pequim, foram as vezes que viu o Presidente do COP.

A polémica promete. As divisões estão instaladas: a atleta, Vanessa Fernandes, por exemplo, apoia a recandidatura.

Temos ingredientes para mais um "caldinho" à portuguesa e tudo isto porque, um salto triplo faz toda a diferença, quando somos assaltados pelo pânico e pela incoerência.
E isso não deveria acontecer a "comandantes".
E se acontece, mude-se o comando.
©J.Tereso
imagem:www.clicrbs.com.br

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