
Longe deverão ir os tempos em que só o milho era o descamisado.
De então para cá, decorreu muito tempo... Ou nem isso.
E os das gerações desse tempo longínquo tiveram de se adaptar às sucessivas e cíclicas convulsões da sociedade - dita moderna e global - com a dificuldade e resistências que as mudanças em si sequenciam. Mudaram-se as mentalidades, os valores - e os princípios que cada um tinha para si como bons, acabaram por ver-se sacudidos na avalanche. A palavra deixou de ser um património inalienável e absoluto para se transformar num produto de cosmética circunstancial, sacudida e fragilizada por "próteses" de ocasião...
É o preço da modernidade...
Também as pessoas, e não só milho, se foram "descamisando": uns de uma forma, outros de outra. Os malfadados tempos em que uma sardinha dava para quatro e que a posta do meio ainda dava opção de "posta aberta ou fechada", já la vão. A mesma sardinha, hoje e em muitos lares, também dá para quatro: desde que três não gostem de peixe.
O meu país vai-se, também ele, "descamisando", aqui e ali: sem canções, sem alegria, esmagado pelas práticas de um ideário global que não se compadece com os atrasos, com as dificuldades, com questões de ética e de honra; assumindo as clivagens sociais e as situações de fome e pobreza como meros "danos colaterais".
O "antes é que era bom" só nos pode mobilizar porque, e apesar de tudo, a vontade, o carácter e a salgada capacidade de lutarmos contra as adversidades - e que herdámos de tantos e bons portugueses - não estão, ainda, reféns dos índices da Dow Jones ou do Nasdaq.
E se nos "descamisarmos", que seja para partilhar a tal sardinha com quem se atrasou no percurso...
Texto:©José Tereso
Imagem: svbeira.no.sapo.pt
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